Votuporanga confirmou quatro casos do sorotipo 3, que causa sintomas mais graves; Secretaria de Saúde do município diz que 98 casos seguem em investigação
A cidade de Votuporanga, no noroeste paulista, registrou quatro casos de um subtipo da dengue que estaria desaparecida do estado há 15 anos.
“Todos os casos pertencem ao mesmo território, localizado em um bairro da região sul da cidade. As quatro pessoas estão em casa e passam bem. Além das ações de bloqueio a Secretaria da Saúde também realizou pulverização”, completa a secretaria.
De acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria, a cidade contabilizava 876 casos de dengue confirmados e 98 seguem em investigação. “É um trabalho de todos, um dever de cada cidadão, manter seus quintais e terrenos limpos, livres de objetos que possam acumular água”, reforçou a secretária municipal de Saúde, Ivonete Félix.
Questionada pela CNN, a Secretaria Estadual de Saúde informou que monitora os casos e que novas medidas para combater a contaminação serão discutidos na próxima semana.
“No dia 27 de novembro, especialistas em saúde estarão reunidos em São Paulo para discutir o cenário epidemiológico e o uso de novas tecnologias capazes de combater as arboviroses, que são doenças causadas por vírus transmitidos por mosquitos”, disse a secretaria estadual.
Sorotipo no Brasil
Em maio deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um estudo em que foi anunciada a identificação do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil depois de 15 anos. Quatro casos foram notificados em Roraima, na região norte, e no Paraná, no sul do país.
“Nesse estudo, fizemos a caracterização genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou anos, epidemias causadas por esse sorotipo”, explicou o virologista Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz, na ocasião.
Segundo Naveca, as análises indicaram que a linhagem detectada foi introduzida nas Américas a partir da Ásia, no período entre 2018 e 2020, provavelmente no Caribe.
“A linhagem que detectamos do sorotipo 3 não é a mesma que já circulou nas Américas e causou epidemias no Brasil no começo dos anos 2000. Nossos resultados mostraram que houve uma nova introdução do genótipo III do sorotipo 3 do vírus da dengue nas Américas, proveniente da Ásia. Essa linhagem está circulando na América Central e recentemente também infectou pessoas nos Estados Unidos. Agora, identificamos que chegou ao Brasil”, relatou.
Dos quatro casos analisados, três eram referentes a casos autóctones de Roraima, ou seja, correspondem a pacientes que se infectaram no estado e não tinham histórico de viagem. Já o caso no Paraná foi importado, diagnosticado em uma pessoa vinda do Suriname.
De acordo com a Fiocruz, o vírus da dengue possui quatro sorotipos. A infecção por um deles gera imunidade contra o mesmo sorotipo, mas é possível contrair dengue novamente se houver contato com um sorotipo diferente.
O risco de uma epidemia com o retorno do sorotipo 3 ocorre por causa da baixa imunidade da população, uma vez que poucas pessoas contraíram esse vírus desde as últimas epidemias registradas no começo dos anos 2000. Existe ainda o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente, por outro sorotipo.
Renato Pereirada CNN