qui, 16 de janeiro de 2025

Troca de mensagens mostra que motorista se recusou a socorrer jovem atropelada em Cedral

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Polícia Civil ouve testemunhas que estavam em festa que terminou em atropelamento de jovem de 20 anos

“Ele começou a fazer graça com o veículo em alta velocidade, e freava repentinamente. Nesse momento todos começaram a pedir para o autor parar de fazer graça, pois iria bater em outros veículos que estavam deixando o local, mas João Pedro não lhes escutou e continuou”. Depoimentos prestados nesta terça-feira, 31, por amigos do estudante de psicologia João Pedro Silva Alves, 23 anos, na delegacia de Cedral, ajudam a elucidar o que aconteceu antes, durante e depois do atropelamento fatal de Estéfany Ferreira Medina, 20, ocorrido no domingo, 29, após o término de uma festa pré-Carnaval.

Os relatos são de jovens que estavam com o rapaz no evento e dentro do carro envolvido no acidente de trânsito. João Pedro conduzia o Astra, acompanhado de mais três passageiros. Todos já prestaram declarações ao delegado José Rubens, que preside o inquérito.

“São informações bastante contundentes que revelam toda a dinâmica dos fatos, ou seja, a festa, o atropelamento e a reação do condutor após o ocorrido. Com base no relato das testemunhas oculares, é possível concluir se houve dolo ou culpa do investigado”, disse o delegado.

Os jovens ouvidos pela Polícia Civil revelaram que chegaram no evento por volta das 23h de sábado, 28. “Por volta das 5h pararam de tomar bebidas alcoólicas e passaram a tomar água, haja vista que o evento já estava chegando ao fim, sendo que (nome de dois amigos) davam água para João Pedro beber, mas ele se recusava e continuou a ingerir mais bebidas alcoólicas, até por volta das 06:00 horas, quando o bar fechou”, consta em um dos depoimentos ao qual o Diário teve acesso.

“Quando já estavam chegando próximo ao acesso à rodovia, o declarante viu o momento em que o veículo foi na direção da vítima, a qual estava sentada com mais algumas pessoas na lateral da via em um barranco, sendo que João Pedro não desviou, atropelando-a. Nesse momento (nome de um dos passageiros) começou a gritar para o autor parar o veículo e prestar socorro”, consta em outro trecho das declarações.

O delegado disse que requisitou com urgência a entrega dos laudos necroscópicos e de local para concluir as investigações.

Um dos passageiros apresentou ao delegado José Rubens prints do diálogo que teve com o autor do atropelamento pelo WhatsApp. Na conversa, João Pedro quer informações sobre o estado de saúde de Estéfany, mas se preocupa em não ser identificado.

Ele pede para o amigo dizer que não o conhece e pergunta se alguém anotou a placa do veículo.

O amigo insiste que ele retorne para o local da ocorrência. “Se puder voltar lá e prestar socorro. Por favor, amigo”. João responde: “eu vou ver o que eu faço”.

Defesa pede liberdade

Está em análise do Tribunal de Justiça de São Paulo o habeas corpus com pedido de liberdade provisória impetrado pelo advogado Juan Siqueira, que representa João Pedro. Ele questionou a legalidade da prisão em flagrante, em razão do intervalo de tempo entre o atropelamento e a localização do condutor. E ainda argumentou que o cliente tem bons antecedentes, emprego e endereço fixo.

Até o fechamento desta reportagem, a medida ainda não havia sido julgada. Questionado sobre o depoimento dos passageiros do carro, o advogado interpretou que não há afirmação de culpa na conduta de João Pedro.

“Os depoimentos prestados revelam tão somente que o acusado incorreu em vários crimes de trânsito, mas que, substancialmente, não tinha como prever que haveria uma pessoa sentada à direita de uma estrada sem acostamento. Já formulamos um pedido para realização de perícia no local, para evitar que o proceso penal seja um espetáculo de especulações de pessoas que, no dia dos fatos, estavam com sua capacidade alterada pelo efeito do álcool”, escreveu.

Joseane Teixeira – diarioweb.com.br