Transplantado do pulmão morre dois dias após casar na UTI em Rio Preto

Cinco anos após transplante de pulmão no HB, Mateus Calera não resistiu. Mas, antes de partir, realizou o sonho de rever a filha de 6 meses e de se casar – a assinatura dos documentos foi no quarto da UTI

Internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base de Rio Preto, Mateus tinha dois pedidos: queria rever a filha de seis meses e oficializar a união com a mulher, Rafaela Pelegrino, 19 anos. Na última sexta-feira, 24, ele conseguiu pegar a pequena Aurora no colo e assinar os papéis do casamento. Dois dias depois, Mateus não resistiu e morreu aos 22 anos. Nesta segunda-feira, 27, ele foi velado e sepultado em Matão.

Mateus Henrique Godói, ou Mateus Calera, como gostava de ser chamado por todos em Matão, foi o primeiro paciente a passar por transplante duplo de pulmão no Interior de São Paulo. A operação foi necessária porque ele tinha fibrose cística e aconteceu em fevereiro de 2018, no Hospital de Base de Rio Preto. Em 3 de janeiro deste ano, ele foi acometido por um fungo, foi internado e não resistiu.

Na última semana, os médicos comunicaram a família que não havia mais o que fazer para que ele se recuperasse. Foi aí que o jovem pediu e foi atendido. “Na quinta, a gente providenciou os documentos, conseguimos e na sexta de manhã a gente assinou os papéis. Era um sonho, ele sempre falava que ia casar, mas queria uma festa grande,” disse Rafaela.

“No casamento, foi um sentimento de felicidade com medo,” completou a jovem, que há dois anos, entre idas e vindas, estava namorando com Mateus. O encontro com a filha e o casamento emocionaram toda a família e os funcionários do hospital. Durante a internação, o rapaz falava com os familiares e via a filha por meio de chamadas de vídeo. Em janeiro, o hospital permitiu que ele fosse até o jardim para promover um encontro pessoalmente.

“Depois de um mês de choro, saudades, chamadas de vídeo matei a saudade do amor da minha vida. Obrigado a todos que conseguiram organizar esse momento e recarregar minhas forças para seguir em frente, em breve estaremos juntos novamente só que em casa e livre de todo mal. Te amo, filha,” escreveu Mateus nas redes sociais após o encontro.

Para o pai de Mateus, Claudio Luiz Calera, 64 anos, a pequena Aurora é um presente de Deus. Ainda mais porque médicos diziam que devido aos problemas de saúde Mateus não poderia ter filho. “Ele foi em paz. Nos deixou uma joia, uma filhinha de seis meses. Foi um presente que o Homem do céu enviou pra gente. Uma criança saudável, sem problema nenhum, perfeita,” disse.

História

Mateus é o caçula de sete irmãos e filho de coração do restaurador de carros antigos Claudio e da dona de casa Margareth. A fibrose cística foi diagnosticada quando ele tinha quatro anos e desde então a luta passou a ser diária. A doença é genética e crônica, afeta pulmões e sistema digestivo. O organismo produz mais muco do que o normal, o que leva ao acúmulo de bactérias e germes nas vias respiratórias, podendo causar inchaço, inflamações e infecções como pneumonia e bronquite, danificando os pulmões.

“Ia todo mês em médico, até que chegou o momento que dependia de cilindro de oxigênio e precisava de transplante. Não tinha condição de fazer em São Paulo, porque ia demorar muito tempo. Foi encaminhado para Rio Preto”, contou Claudio. Após um ano e meio na fila de espera, apareceram órgãos compatíveis vindos do Rio de Janeiro.

“Depois do transplante, viveu o que não conseguia viver. Vida praticamente normal, com medicamentos e exames, mas uma vida perto do normal. O dia dele chegou e tenho certeza de que agora tá respirando sem dificuldade”, disse o pai, emocionado.

Querido por todos, Mateus é descrito como bem-humorado e como uma pessoa que animava quem estivesse ao redor, além de ter muita vontade de viver. Na noite desta segunda, centenas de motos e carros, com balões brancos pendurados, percorreram ruas de Matão para homenagear o jovem.

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