qui, 16 de janeiro de 2025

‘Situação é estarrecedora’, diz PM que atendeu família mantida em cárcere em Guaratiba por 17 anos

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Agentes chegaram até a casa, na manhã de quinta (28), por meio de uma denúncia anônima. ‘Preocupação imediata foi de prestar socorro médico’, ressaltou o policial sobre o estado de saúde das vítimas.

Os policiais militares do 27º Batalhão (Santa Cruz) que socorreram uma família que era mantida em cárcere privado há 17 anos em uma casa no bairro da Foice, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, contam que, mesmo acostumados a lidar com crimes, se surpreenderam com o caso de maus-tratos.

Segundo eles, a principal preocupação no momento do resgate foi oferecer atendimento médico. “A situação era estarrecedora”, resumiu o policial militar que prestou socorro.

A mãe e os filhos, de 19 e 20 anos, foram encontrados pelos policiais viviam em condições sub-humanas, amarrados e sem higiene.

Os agentes chegaram até a casa, na manhã de quinta-feira (28), por meio de uma denúncia anônima, para checar a informação de que Luiz Antonio Santos Silva mantinha a família trancada.

“Os policiais que primeiro chegaram aqui encontraram essas crianças realmente amarradas. Posteriormente, eu cheguei e vi que elas estavam sujas, subnutridas. Então, a preocupação imediata foi de prestar socorro médico. O Samu foi acionado para prestar todo o socorro. Inclusive, elas se encontraram agora sob os cuidados médicos”, disse o PM.

O homem foi preso e vai responder por sequestro ou cárcere privado; vias de fato; maus tratos e crime de tortura. O caso é investigado pela 43ª DP (Guaratiba).

“Encontraram na residência uma senhora e mais duas pessoas que eram filhos dessa senhora com aparência de uma criança, subnutridos”, falou o agente sobre as condições da família.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que a mulher e os filhos que estavam em cárcere privado apresentavam quadro de desidratação e desnutrição grave e estão recebendo o atendimento necessário, além do acompanhamento dos serviços social e de saúde mental.

Vizinhos

Os vizinhos também se surpreenderam com a aparência da família. Marizete Dias, moradora da região, ficou impressionada com a situação de desnutrição da família e contou que no momento da libertação da família pela polícia, a mulher não conseguia sequer falar. “Vimos o estado que as duas crianças saíram daqui e mais uma semana, acho que não iria mais sobreviver, e eu falei com ela na ambulância. E ela está sem conseguir falar, se expressar, até porque de fraqueza”, disse Marizete.

Os vizinhos relataram que tentaram pedir ajuda ao poder público, mas, sem retorno, passaram a alimentar a mãe e seus dois filhos escondidos.

“As crianças ficavam presas, amarradas. Na quarta-feira, eu trouxe pão, mas a mulher contou que o Luiz viu e jogou fora, contou que ele queria bater nela, que achou ruim, e que eles não comeram nada”, contou Sebastião Gomes da Silva. Ele contou ainda que, na quinta-feira (28), dia da libertação da família, conseguiu dar uma fruta para a menina.

“A menina pegou hoje aqui, a bichinha pegou a banana e comeu com casca e tudo. Ela estava com muita fome”, contou.

Caso já tinha sido denunciado

Moradores contaram ainda que denúncias foram feitas ao posto de saúde do bairro e ao conselho tutelar, mas que de nada adiantou.

A direção da Clínica da Família Alkindar Soares Pereira Filho informou que notificou a suspeita de maus-tratos em 2020 ao Conselho Tutelar da região.

O Conselho Tutelar de Guaratiba disse que acompanha o caso há dois anos, que chamou o Ministério Público e polícia, mas nada foi feito até então. O Ministério Público não retornou.

G1