Setembro Amarelo: Pandemia registra aumento alarmante de suicídios no Brasil

Especialistas alertam sobre os efeitos indiretos da crise sanitária na saúde mental

Em meio às preocupações com a pandemia de COVID-19, um novo e preocupante dado vem à tona: durante o período da pandemia, o Brasil registrou um aumento significativo no número de casos de suicídio, atingindo a marca de 30 mil ocorrências. Esse cenário alarmante é o foco de especialistas que alertam para a importância de monitorar os efeitos da crise sanitária na saúde mental da população.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência de saúde pública provocada pela COVID-19 em maio deste ano, mas os efeitos indiretos da pandemia continuam a se manifestar, especialmente no que diz respeito ao aumento dos casos de suicídio. Pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane da Fundação Oswaldo Cruz no Amazonas (ILMD/Fiocruz Amazônia) destacam essa preocupação no Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, celebrado em 10 de setembro.

Com base em dados de mortalidade do Ministério da Saúde, os pesquisadores conduziram um estudo que analisou a ocorrência de suicídios no país durante as fases mais críticas da pandemia. Os resultados revelaram números acima do esperado, especialmente entre mulheres nas regiões Norte e Nordeste. O estudo, intitulado “Excesso de Suicídios no Brasil nos Dois Primeiros Anos da Pandemia de COVID-19: Desigualdades de Gênero, Regionais e de Faixas Etárias”, foi publicado no International Journal of Social Psychiatry, um respeitado periódico na área da psiquiatria social.

Destaca-se que no segundo ano do estudo, entre março de 2021 e fevereiro de 2022, o cenário se agravou, com um aumento alarmante de suicídios em mulheres com 60 anos ou mais na região Sudeste (28%), bem como nas faixas etárias de 30 a 59 anos nas regiões Norte (32%) e Nordeste (61%). Entre julho e outubro de 2021, houve um “alarmante excesso de suicídios de 83% em mulheres com 60 anos ou mais no Nordeste”.

A pesquisa ressalta que países gravemente afetados pelos efeitos diretos da pandemia, como o Brasil, foram mais suscetíveis aos efeitos indiretos, como o aumento dos casos de suicídio. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, o Brasil registrou 16,2 mil casos de suicídio, uma média de 44 por dia, representando um aumento de quase 12% em relação a 2021.

O epidemiologista Jesem Orellana, que liderou o estudo, enfatiza a importância do monitoramento contínuo desses casos e da necessidade de políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio, especialmente entre os mais vulneráveis. Orellana destaca que a subnotificação, especialmente em regiões menos desenvolvidas, limita a implementação eficaz dessas políticas.

O pesquisador também ressalta a importância de fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial, que atua no acolhimento e tratamento de pessoas com transtorno mental e/ou dependências químicas. Ele enfatiza a necessidade de envolver diferentes atores da sociedade na prevenção do suicídio, quebrando mitos, tabus e estigmas que podem agravar o problema.

Setembro é o mês dedicado à prevenção do suicídio, conhecido como Setembro Amarelo. A campanha tem como objetivo aumentar a conscientização sobre os sinais de alerta e a importância de buscar ajuda. A Agência Brasil lista alguns indícios que podem indicar que alguém está pensando em tirar a própria vida, incluindo expressão de ideias suicidas, isolamento social e comportamentos de risco.

Profissionais de saúde mental e instituições especializadas em prevenção ao suicídio recomendam que qualquer pessoa que sinta a necessidade de acolhimento busque ajuda específica. Existem diversos canais disponíveis, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Mapa da Saúde Mental e o Pode Falar, que oferecem apoio emocional e orientação de forma voluntária e gratuita, garantindo o sigilo das conversas.

Em um momento em que a atenção à saúde mental se mostra tão crucial, a sociedade e os tomadores de decisão devem unir esforços para enfrentar o problema do suicídio e garantir o apoio necessário àqueles que precisam. É hora de quebrar o silêncio e agir para prevenir essa tragédia.

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