Psiquiatra Dr. Fernando de Biazi Andreotti elencou os fatores de risco e qual o tratamento
O mês de setembro é marcado pela campanha de prevenção ao suicídio, denominada “Setembro Amarelo”. O projeto foi lançado em 2014 em parceria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 foram registrados mais de 700 mil casos de suicídio em todo o mundo. Ao levar em consideração a subnotificação, pode-se estimar que mais de um milhão de pessoas tenham tirado a própria vida. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.
Mundialmente, a taxa de suicídio está diminuindo, de 36% variando de 17% na região do Mediterrâneo Oriental, 47% na Europa e 49% no Pacífico Ocidental. Mas, nas Américas, aumentou 17% no mesmo período entre 2000 e 2019.
Atualmente, no Brasil, é a 3º causa de morte entre jovens entre 15 e 24 anos. Recentemente, foi observado um grande aumento no número de crianças e adolescentes atendidos em emergências hospitalares com tentativa ou suicídio.
E é claro que o SanSaúde apoia a campanha de prevenção. O psiquiatra Dr. Fernando de Biazi Andreotti destacou a importância da iniciativa. “Buscamos conscientizar a população sobre os fatores de risco para o comportamento suicida e orientar o tratamento adequado dos transtornos mentais, que representam 96,8% dos casos”, alertou.
Em 2022, o lema é “A vida é a melhor escolha”. “É muito importante salientarmos que uma pessoa que está deprimida, com pensamentos de morte e com planejamento, provavelmente irá tentar cometer o suicídio se não amparada e iniciado um tratamento com uma equipe multidisciplinar. Muitas vezes, os familiares conseguem notar algumas características de um transtorno depressivo maior na sua casa, mas não perguntam se está precisando de ajuda, se pensa em acabar com a própria vida”, disse.
Crianças e adolescentes
Dr. Fernando disse ainda que crianças entre 10 e 14 anos já apresentam maturidade cognitiva para cometer o suicídio, portanto se deve observar algumas atitudes que demonstram um sofrimento mental. “Bullying, isolamento no meio social/escolar são indicadores de que pode estar com um grande sofrimento. Entretanto, menores introvertidos é ainda mais difícil notar”, complementou.
Dados sugerem que principalmente os jovens, que cometem autolesão, têm um risco sete vezes maior de cometer o suicídio.
Fatores de risco
Os dois principais fatores de risco são:
– Tentativa prévia de suicídio (É o principal fator de risco).
– Doença Mental (os principais são depressão; bipolar; alcoolismo, abuso e dependência de outras drogas; transtorno de personalidade esquizofrenia).
– Desesperança, desespero, desamparo e impulsividade.
⁃Idade (aumento entre os jovens e também um número alto em idosos)
– Gênero (três vezes maior entre os homens do que mulheres)
Nos homens, a solidão e o isolamento social são os principais fatores e as mulheres se suicidam menos pelo fato de elas terem redes sociais de proteção mais fortes.
⁃ Doenças clínicas não psiquiátricas (HIV, câncer, doenças neurológicas, reumatológicas, doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica).
⁃ Eventos adversos na infância e adolescência (abuso físico e sexual, transtornos psiquiátricos na família, pais divorciados)
⁃ Histórico familiar e genética (familiar que tentou suicídio aumenta o risco entre os filhos).
⁃ Fatores sociais (inclui morar sozinho, não ter um bom laço social em sua comunidade, por exemplo).
Como identificar uma pessoa em sofrimento?
Existem vários agravantes que geram um sofrimento, sendo muitas vezes difícil identificar, principalmente em idosos que, na maioria das vezes, não demonstram. “Realizar uma entrevista clínica e coleta de informações sobre aquele indivíduo por terceiros podem indicar o risco a fim de iniciarem acolhimento e tratamento. Mas é verdade que ninguém é capaz de prever com exatidão qual paciente irá tirar a sua própria vida”, explicou.
Como ajudar?
O médico deu dicas para prevenção do suicídio. “Se um familiar ou amigo notar um isolamento social, uma tristeza profunda ou anedonia (perda de interesse ou prazer) em uma determinada pessoa, é importante acolher e levar para uma avaliação psiquiátrica. São atitudes que podem salvar uma vida”, frisou.
Existe tratamento? Qual?
Existe tratamento sim, apoio familiar, médico, terapia e, se necessário, internação hospitalar. Tudo agrega para uma melhora do paciente.
A OMS aponta três características psicopatológicas comuns no estado mental do suicida:
⁃ Ambivalência (desejo de viver e de morrer se confundem, o indivíduo tem uma urgência em sair da dor e do sofrimento com a morte, entretanto há o desejo de sobreviver)
⁃ Impulsividade (eventos negativos podem gerar um impulso para cometer o suicídio, que dura minutos ou horas, então se tiver uma rede de apoio provavelmente não ocorre a concretização do ato)
⁃ Rigidez (pessoa só pensa em acabar com a própria vida e não consegue pensar em outra maneira de sair dessa situação).
O funcionamento mental gira em torno de três sentimentos: intolerável (não suportar); inescapável (sem saída) e interminável (sem fim). Existe uma distorção da percepção da realidade com avaliação negativa de si mesmo, do mundo e do futuro. Há um medo irracional e uma preocupação excessiva. O passado e o presente reforçam seu sofrimento e o futuro é sombrio, sem perspectiva e ausência de planos. Surge a ideação e tentativa de suicídio, que pode culminar com o ato suicida.
Identificada uma pessoa que está em sofrimento e pode cometer suicídio, procure ajuda especializada para essa pessoa. “Existe o disque 188, que é o Centro de Valorização da vida e também medicações como estabilizadores de humor e antidepressivos, além de suporte hospitalar para não aumentar uma estatística tão triste no Brasil e no mundo”, finalizou.