Noah precisou de 13 transfusões de sangue ao longo dos 170 dias em que ficou internado e superou sepse, anemia e até hemorragia cerebral
“Nossa relação com Deus foi mudando conforme as batalhas iam surgindo. No começo a gente pedia: ‘faz um milagre, senhor’. Mas o amor de mãe falou mais alto e era tão doloroso ver a luta do Noah que passei a dizer: ‘Senhor, a vida do meu filho está nas suas mãos, que seja feita a sua vontade’. Noah foi superando cada um dos desafios. Ele sempre teve muita sede de viver”.
Jaqueline Silva, 27 anos, ainda se emociona ao relembrar os 170 dias de internação entre o nascimento do primeiro filho e a felicidade da alta médica, ocorrida no último mês. Noah nasceu no Hospital da Criança e Maternidade de Rio Preto no dia 27 de setembro do ano passado. Prematuro extremo, com 23 semanas, e pesando apenas 600 gramas, ele desafiou toda a equipe.
“Bebês nessa idade gestacional têm poucas chances de sobrevida. Os órgãos não estão plenamente desenvolvidos e há grande incidência de hemorragias, porque os vasos sanguíneos são muito finos e frágeis”, explica a médica neonatologista Marina Lania Teles, coordenadora da UTI Neonatal 2 do HCM, que acompanhou o tratamento do pequeno paciente.
Noah foi um presente de 10 anos de casamento para Jaqueline e Ezequiel, que já tinham tentado tratamentos de fertilização, sem sucesso. A gestação se desenvolvia saudável quando a moradora de Mirassol sentiu algo estranho com 21 semanas.
“Trabalhei o dia todo e só no final da tarde busquei atendimento no HCM. Achei que só iria ser avaliada, mas saí do consultório de maca. Tinha perdido o tampão e estava com sete centímetros de dilatação”, lembra.
Jaqueline conta que a médica que a atendeu foi bastante sincera com o prognóstico. “Ela disse que iria tentar adiar ao máximo o nascimento do Noah, mas que naquelas condições seria difícil segurar porque a bolsa já estava saindo. Fiquei internada duas semanas, em repouso absoluto. Mas entrei em trabalho de parto com 23 semanas e Noah nasceu empelicado”.
Muito pequeno e frágil, o bebê foi intubado e levado direto para a Unidade de Terapia Intensiva. Fotos da mãozinha e do pé de Noah, feitas pela mãe, impressionam pelo tamanho. Foram 105 dias até que ele conseguisse respirar sozinho.
“Um dos momentos mais difíceis foi quando a equipe precisou substituir o tipo de ventilação, porque o tubo instalado não estava controlando a saturação. Eu via o peitinho dele tremendo, por conta da ação do aparelho, e mesmo assim não estava sendo suficiente. Eu achei que ele não iria resistir”, confessa Jaqueline.
Intercorrências e união de esforços
Noah enfrentou muitas intercorrências: retinopatia da prematuridade, icterícia, queimadura química, sepse, anemia, displasia broncopulmonar e hemorragia cerebral. O bebê precisou de 13 transfusões de sangue.
“O tratamento dele foi uma união de esforços entre o que a ciência dispõe e o amor de toda a equipe pela causa. É impossível não se envolver com uma história dessa. A Jaqueline também foi uma guerreira e tem grande parcela de contribuição na recuperação do bebê”, menciona a médica Marina Lania Teles.
Aleitamento
Segundo ela, o aleitamento materno foi fundamental para a nutrição do bebezinho e para fortalecimento do sistema imunológico. Jaqueline foi auxiliada a ordenhar desde o parto e, tão logo foi possível, viveu a felicidade de amamentar o filho.
Com quase seis meses de vida e pesando dois quilos a mais, no dia 16 de março Noah finalmente foi para casa. Nos primeiros dias ele ainda dependia de cateter de oxigênio, mas já respira sem auxílio. Risonho, ele continua sendo alimentado exclusivamente pelo leite da mãe e agora pesa quase quatro quilos. Noah é um nome de origem hebraica que quer dizer “vida longa”. (Josiane Teixeira)
Diário Da Região