sex, 18 de abril de 2025

Paraquedismo é suspenso por tempo indeterminado em Boituva

Centro tem as atividades suspensas após a quarta morte neste ano

Depois de registrar quatro mortes este ano, o Centro Nacional de Paraquedismo, referência internacional para esse esporte, suspendeu as atividades por tempo indeterminado, em Boituva, interior de São Paulo. A medida foi anunciada na noite de sexta-feira, 22, depois que a Justiça determinou a paralisação do lançamento de paraquedistas sobre as áreas urbanas.

No dia 19, o aluno de paraquedismo Andrius Jamaico Pantaleão, de 38 anos, morreu após cair sobre o telhado de uma casa. O presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo, Uellinton Mendes, disse esperar que a medida seja temporária.

Segundo ele, apesar da proibição judicial ser somente sobre saltos no trecho urbano no município, foram suspensas todas as atividades, “tendo em vista a necessidade de complexa readequação da operação de paraquedismo com as aeronaves, pilotos, escolas e instrutores”.

A decisão da Justiça de Boituva foi dada em representação judicial feita pela Polícia Civil, no inquérito que investiga a morte de Pantaleão. Conforme o delegado Emerson Jesus Martins, os saltos sobre a área urbana e a malha viária, que inclui um longo trecho da rodovia Castelo Branco (SP-280), podem acarretar novas mortes.

Ele lembrou acidentes anteriores em que os paraquedistas se chocaram com veículos na rodovia ou atingiram fiação elétrica. A decisão da justiça foi tomada “para que se evite que pessoas, coisas, objetos e aviões caiam, literalmente, sobre a cabeça e residência dos munícipes, protegendo-se, dessa forma, a salubridade dos cidadãos boituvenses, ofertando-se mais segurança a todos”.

Foi estipulada multa de R$ 50 mil por dia em caso de descumprimento da medida. A justiça também determinou a suspensão das atividades da escola de paraquedismo da qual Andrius era aluno, até a conclusão do laudo pericial sobre as causas do acidente.

Em reunião na tarde desta segunda-feira, 25, a Confederação Nacional de Paraquedismo, que mantém o Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), a prefeitura e a Associação dos Paraquedistas de Boituva decidiram entrar com pedido de reconsideração da medida judicial que implicou a suspensão das atividades do CNP.

Impacto

O Centro Nacional de Paraquedismo ocupa área de 99 mil metros quadrados, a 116 km da capital paulista, e tem cerca de 20 escolas em funcionamento. De acordo com a prefeitura de Boituva, é o local onde mais se salta de paraquedas no mundo, entre saltos turísticos e profissionais, promovendo aproximadamente 15 mil lançamentos por mês.

Já o CNP informou que são em média 100 mil saltos por ano. O local é utilizado também para o treinamento de atletas do paraquedismo esportivo. Em março deste ano, a cidade foi oficializada como “Capital Nacional do Paraquedismo”.

De acordo com Mendes, o fechamento acontece às vésperas do maior Campeonato Brasileiro de Paraquedismo, realizado pela Confederação Brasileira de Paraquedismo (CBPQ), com 96 inscritos, que tem início nesta terça-feira, 26, em Piracicaba, no interior paulista. “Vale vaga para a Copa do Mundo do paraquedismo, que será realizada em agosto de 2023, na Noruega”, afirmou.

O presidente da confederação, entidade que mantém o CNP, disse que está trabalhando em conjunto com as autoridades locais e a prefeitura para uma solução rápida para o problema. Uma das possibilidades é transferir as áreas de lançamento para pontos mais distantes na área urbana, em fazendas ao sul da atual sede do CNP.

Segundo ele, 300 famílias dependem diretamente das atividades envolvendo o paraquedismo. “Se não reabrir logo, elas vão passar necessidades. O prejuízo só não é maior do que o causado pela pandemia (de covid-19)”, disse.

Acidentes

Desde janeiro deste ano, houve quatro mortes por acidentes envolvendo paraquedistas em Boituva. No caso mais recente, do empresário Andrius Jamaico Pantaleão, a apuração inicial indica que não houve a abertura total do paraquedas principal, nem do reserva. Conforme o delegado Martins, é preciso aguardar a perícia para chegar a uma conclusão. A vítima atingiu o telhado de uma casa e foi ao solo, tendo sido encontrado já sem vida. O aluno era acompanhado por instrutor.

Em 11 de maio, dois paraquedistas morreram após o pouso forçado de uma aeronave que decolou do CNP com 15 pessoas a bordo – um piloto e 15 atletas. Outras dez pessoas ficaram feridas. No dia 24 de abril, a sargento paraquedista do Exército Bruna Ploner morreu durante um salto com paraquedas de alta performance.

Agência Estado

 

 

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