Virologista ressalta que aglomerações podem levar a novas mutações
A nova onda de casos de Covid e síndromes gripais vem deixando um cenário de incertezas no que diz respeito a festas e aglomerações. A situação tem levado promotores de eventos de Rio Preto e região a suspenderem festas previstas para este mês de janeiro e também para os próximos. Por outro lado, eventos marcados para acontecer em chácaras e estabelecimentos comerciais seguem previstos, com públicos que vão de 200 a 2 mil pessoas.
Caso não aconteçam, vale lembrar que eventos que foram marcados até dezembro do ano passado ainda se enquadram na lei de remarcações, que dá amparo a contratos e renegociações. Na última segunda-feira, 10, a 3R Eventos, organizadora de festas em chácaras e casas noturnas de Rio Preto, publicou um comunicado em suas redes sociais informando que “devido ao novo surto de Covid e gripe, optou por cancelar a agenda de janeiro e manter as atividades em espera até que a situação se normalize”.
Uma das festas que estava marcada pelo grupo, que realizou um Réveillon com mais de 2 mil pessoas na Chácara Viva, entre Rio Preto e Cedral, era a Vegas. O evento open bar aconteceria nesta sexta-feira, 14, na Mixed Club, na avenida Arthur Nonato, no Jardim Maracanã. A reportagem tentou contato com a empresa de eventos, mas não conseguiu retorno.
No último final de semana, o Hot Beach, parque aquático localizado em Olímpia, também já havia cancelado um evento. O local previa realizar o show com o Grupo Envolvência, com expectativa de receber 950 pessoas. Devido ao cenário de evolução de casos, o evento foi adiado para o dia 1º de abril.
Na sexta-feira, 7, o aumento de casos de Covid e gripes levou a Prefeitura de Votuporanga a cancelar o Oba Festival, um dos maiores eventos de Carnaval do interior de São Paulo, que aconteceria entre 26 de fevereiro e 1º de março. A organização do festival informou ao Diário que a festa foi, então, adiada para o Carnaval de 2023.
A decisão motivou o empresário de Rio Preto Luis Guilherme Garcia, da MJ Cacildis Produções, a cancelar o show com o cantor Thiaguinho, previsto para acontecer no dia 1º de abril no Clube Monte Líbano, entre Rio Preto e Mirassol.
Garcia contou que o cancelamento de um evento grandioso como o Oba trouxe insegurança ao setor, especialmente em relação a certeza da festa e a venda de ingressos. “Achamos por bem cancelar, botar um ponto final nisso e devolver ingresso pra quem comprou ou oferecer pra outro evento marcado pra junho”, disse o empresário, referindo-se à Feijoada de sua empresa, que está prevista para 25 de junho, com a presença do cantor Alexandre Pires.
Além do OBA, o carnaval de rua também foi cancelado na maioria das cidades da região, como Rio Preto e outras com festas tradicionais, casos de Ibirá, Potirendaba e Santa Fé do Sul.
Risco das aglomerações
Para a médica virologista Carolina Pacca, professora de Medicina da Faceres, o cenário atual é uma consequência de mutações e novas variantes, além do surto do H3N2. A profissional lembrou, inclusive, que em dezembro, Rio Preto chegou a receber 30 mil pessoas no show do Gusttavo Lima, que causou um aumento de casos nos 15 dias depois do evento, mas em proporções menos exageradas pela ausência destas variantes.
“Quanto mais o vírus se encontra com seu hospedeiro, mais rápido novas variantes vão acontecer. E quando ocorrem aglomerações, como no fim de ano, com a entrada da Ômicron e sua disseminação, é mais fácil ocorrer as mutações, o que facilitou a infecção de muitas pessoas”, explicou.
A virologista também ressaltou a importância da vacinação para evitar complicações em um momento como este, mas lembrou que a imunização, por si só, não pode ser uma aposta para seguir com aglomerações. “Só apresentar o comprovante de vacinação não significa que quem estiver lá não esteja contaminado e não vá disseminar a doença e também que quem está vacinado não vá contrair”, explicou Carolina. Rio Preto tem 84% da população já imunizada com duas doses.
Ela afirmou, ainda, que aglomerações podem ajudar a sobrecarregar o sistema de saúde e, por isso, prefeituras devem começar a agir. “Eu acredito que não vai voltar ao começo da pandemia, com alto índice de mortes, mas acredito que festas gigantescas por enquanto ainda não. Vamos ter que reaprender a fazê-las, vai demorar um tempo pra super aglomerações para evitar problemas de sobrecarga no sistema de saúde”, concluiu Carolina. (AP)
‘Decisão prematura’
Após o cancelamento do Oba Festival, em Votuporanga, a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) divulgou, na última segunda-feira, 10, uma carta aberta, chamando a decisão de cancelar eventos de “prematura”.
“A retomada dos eventos de cultura e entretenimento é um processo que está em andamento em todo o país, respeitando os índices epidemiológicos de cada região. Dessa forma, a associação considera precipitado, preconceituoso e prematuro o cancelamento de eventos controlados obedecemos cuidados necessários e exigidos”, informou o comunicado da entidade, que lembrou que o aumento dos casos não têm levado a agravamentos e óbitos e que a referência com os países que já vivenciaram a onda desta cepa “é clara nessa direção”.
A associação afirmou, ainda, que o setor está sendo usado, mais uma vez, como “bode expiatório” e defende a continuidade da retomada com suporte da “ciência”, “racionalidade”, “coerência” e “justiça”.
Alesandro Possoni, presidente da Abrape, disse que a associação não busca eventos “a todo custo”, mas que não quer ser “a vilã” da situação. “Seguimos como shoppings seguem, igrejas e não queremos o retrocesso”, afirmou o empresário, que chamou o avanço da vacinação de conquista e lembrou da importância dos eventos para famílias que já estão há dois anos sem conseguir trabalhar de maneira estável.
Arthur Pazin – diarioweb.com.br