Cleudson Montali recebeu título de cidadão emérito em Agudos/SP e Birigui/SP, cidades onde Operação Raio X cumpriu mandados e prendeu vereadores. Ação da Polícia Civil e Gaeco contra desvio de verba da Saúde prendeu 53 pessoas em cinco estados.
A operação que investiga desvio de verba da área da saúde, chamada de Raio X, apontou como um dos principais responsáveis pelo esquema o médico anestesista Cleudson Montali.
Segundo a investigação da Polícia Civil e do Gaeco, grupo do Ministério Público que combate organizações criminosas, Montali usava quatro organizações sociais (OS) que administrava para fazer contratos fraudulentos. As OSs movimentaram R$ 2,5 bilhões e os desvios chegam na casa dos R$ 500 milhões, conforme a investigação.
O médico, que foi preso durante a operação no dia 29 de setembro, junto com outras 52 pessoas, foi diretor em várias unidades de saúde.
Montali também foi homenageado em Birigui/SP e Agudos/SP com o título de cidadão Emérito. Nessas duas cidades a a polícia cumpriu mandados e prendeu vereadores que estariam envolvidos no esquema.
Conforme a denúncia do MP, a investigação, que durou dois anos, apontou que as organizações sociais de Cleudson cresceram rapidamente e fecharam contratos em 27 cidades de quatro estados: Pará, Paraíba, Paraná e São Paulo.
Segundo a denúncia do MP, as OSs do anestesista contratavam empresas terceirizadas que superfaturavam as notas fiscais ou nem entregavam o serviço contratado, e que essas empresas pertenciam a pessoas envolvidas no esquema.
Segundo o Fantástico apurou, a quadrilha, que tinha a participação de políticos, desviou R$ 500 milhões, que deveriam ter sido investidos em hospitais e no tratamento da Covid.
Participação de políticos
Em muitas das vezes, os políticos estavam envolvidos no esquema para ajudar na primeira fase do esquema, o fechamento de contratos com o poder público. Em Agudos, um vereador foi preso suspeito de envolvimento no esquema.
Glauco Luiz Costa (MDB), conhecido como “Batata”, teria recebido R$ 50 mil para votar pela cassação do prefeito, Altair Francisco Silva (PRB), e influenciar os colegas na votação. A tentativa de afastar o prefeito é por ele ter rompido com o contrato de uma das OSs de Cleudson.
O prefeito Altair foi afastado duas vezes do cargo, mas conseguiu voltar após decisão da Justiça. Outros quatro vereadores da cidade também são investigados.
Segundo as investigações, no complô contra o prefeito, Cleudson conseguiu também que a Câmara de Agudos o homenageasse com o título de “Cidadão Agudense”, em 2019. Na ocasião, Batata discursou e disse que “era uma honra” receber o médico na Casa.
Segundo a defesa do vereador, “Batata não recebeu qualquer valor em espécie, sempre votou de acordo com suas convicções e lamenta que estejam sendo veiculadas informações desconformes com a realidade”.
Após a reportagem do Fantástico, a Câmara de Agudos votou um pedido de instauração de processo de cassação contra o vereador preso, mas o pedido foi negado por 8 votos a 3.
Outros políticos presos em São Paulo foram o Secretário de Saúde de Penápolis/SP, Wilson Carlos Braz, e o vereador de Birigui/SP José Roberto Merino Garcia, conhecido como Paquinha. A Câmara de Birigui também homenageou o médico anestesista com o título de cidadão biriguiense, em 2016.
Quem é Cleudson Montali
Nascido em Bauru/SP, o médico com especialidade em anestesia Cleudson Montali, 46 anos, foi diretor em vários hospitais e chegou a ser presidente regional da Associação Paulista de Medicina. O médico, descrito pela polícia e pelo Ministério Público como uma pessoa discreta, também foi diretor do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Araçatuba.
A polícia descobriu que o patrimônio milionário dele conta com uma fazenda em Mato Grosso do Sul, avaliada em R$ 10 milhões, além de um jatinho, de R$ 7 milhões.
Veja a lista de títulos de Cleudson Montali:
- graduado em medicina pela Universidade Federal de Uberlândia (anos 1990);
- serviu à Força Aérea Brasileira (em 1999), junto ao Sexto Comando Aéreo Regional de Brasília.
- atuou como anesteologista na Santa Casa de Penápolis e Hospital Luis Valente de Penápolis, onde permaneceu até meados de 2005;
- presidente da Associação Paulista de Medicina de Penápolis
- diretor técnico e diretor clínico do Hospital Espírita João Marckesi de Penápolis;
- diretor técnico do consorcio intermunicipal de Saúde de Penápolis (CISA);
- atuou como anestesista no Hospital de Promissão (concursado);
- atuou como anestesista, chefe do centro cirúrgico e plantonista da UTI na Santa Casa de Lins;
- atuou na Santa Casa de Misericórdia de Birigui como anestesista;
- diretor clínico da Santa Casa de Birigui;
- gerente médico do Ame de Araçatuba;
- Diretor do Departamento Regional de Araçatuba;
- presidente e vice-presidente da Associação Paulista de Medicina;
- plantonista no pronto-atendimento de Santópolis do Aguapei;
- Anestesista junto á santa casa de Andradina;
- coordenador médico do atendimento de urgência e emergência da cidade de Araçatuba pela OSs de Andradina;
- atuou em hospitais particulares, inclusive, em cargos de direção;
Além de Cleudson, outras 52 pessoas foram presas durante a operação Raio X, em cinco estados. Os detidos tiveram as prisões temporárias prorrogadas na sexta-feira (2), a pedido do MP.
O prazo terminaria no sábado (3), mas ainda não deu tempo de a Polícia Civil ouvir os presos. Por isso, o Ministério Público pediu a prorrogação de mais cinco dias.
A defesa de Cleudson disse que “a verdade real e a inocência de seu cliente será demonstrada em fase de instrução processual, onde prevalecerá o princípio do contraditório e da ampla defesa”.
Denunciados à Justiça
O Ministério Público denunciou à Justiça, na noite de segunda-feira (5), todos os 53 presos.
O grupo criminoso é investigado por organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro, corrupção e fraude em licitação. Com a formalização, os acusados se tornam réus e passam a responder ao processo.
A investigação para identificar a quadrilha durou mais de dois anos e foi concentrada na região de Araçatuba, pois o primeiro indício de irregularidade em contrato de saúde pública foi descoberto em Penápolis.
“Começou aqui porque a primeira notícia que tivemos envolvendo irregularidades foi na região. Existem outras promotorias do estado de São Paulo que também investigavam o mesmo esquema. A gente foi se aproximando e trocando informações. Por isso chegamos a essa dimensão, de diversas cidades e até de outros estados”, diz a promotora do Gaeco, Flávia de Lima e Marcus.
De acordo com o Ministério Público e a Polícia Civil, foram cumpridos 237 mandados de busca e apreensão e 64 de prisão temporária em cinco estados do país.
“Eram feitas as licitações, o que indica, fraudulentas. Vencida a licitação, era feita a celebração de contrato de gestão entre a OS e município, aí tínhamos prestadores de serviço. Da OS passava o dinheiro para os prestadores, que no próximo momento, fazia o dinheiro retornar para os cofres da OS. Com isso, havia a lavagem de dinheiro depois, com a compra de imóveis e outros bens”, afirma o delegado Fábio Pistori.
FONTE: Informações | g1.globo.com