qui, 16 de janeiro de 2025

Justiça decide punir 10 adolescentes por disseminar falso ataque a escolas da região

2

Nos últimos 45 dias, Polícia Civil de Rio Preto identificou 31 boatos de ataques a escolas; dez adolescentes apontados como autores foram punidos

A Polícia Civil identificou 31 boatos de ataques contra escolas da região de Rio Preto nos últimos 45 dias. Deste total, 25 foram esclarecidos e seis ainda estão sob investigação, o que gerou à punição de dez adolescentes da cidade. Os dados foram revelados pelo delegado assistente da Seccional, Alexandre Del Nero Arid, durante o 1º Seminário da Cultura da Paz no Contexto Escolar, realizado na manhã desta segunda-feira, 8, pela Vara da Infância e da Juventude de Rio Preto. O evento contou com a participação de 900 pessoas, principalmente educadores.

A onda de fake news surgiu logo após dois ataques a escolas neste ano, um em São Paulo e outro em Blumenau (SC). Em Rio Preto foram espalhadas em redes sociais falsas ameaças contra estabelecimentos de ensino, o que causou medo entre alunos, pais e educadores. Imediatamente, a delegacia seccional começou identificar os autores, inclusive com cumprimento de mandados de busca e apreensão de celulares e computadores dos suspeitos.

Responsável pelo setor de inteligência da seccional de Rio Preto, Arid afirma que na maioria dos casos os autores das fake news são os próprios estudantes das escolas. Depois de coletar o depoimento dos menores, acompanhados de seus pais ou responsáveis, os delegados de cada distrito encaminham os casos para o Ministério Público.

“Apesar de serem apenas ameaças, a gente apurou. Não há risco de nenhuma delas se concretizar. Nós continuamos monitorando os casos, principalmente na dark web, por meio de software, para nos anteciparmos”, diz o delegado.

Arid destacou semelhanças entre os estudantes identificados como autores de fake news: apresentam comportamentos sexistas e preconceituosos contra etnias e público LGBTQ+. Ele acredita que isso se dá por influência do conteúdo que recebem principalmente pela internet e pede atenção aos educadores e pais para observarem o modo de agir dos jovens e por onde eles navegam pelas redes sociais.

“A gente percebe neles um comportamento de hostilidade e de extremista, mas devemos ponderar que eles não desenvolveram isso sozinho. Sofreram influências negativas”, diz o delegado.

Punição

O promotor da Infância e da Juventude André Luís de Sousa afirma que oito jovens indiciados foram punidos com medidas socioeducativas, mas em outros dois casos ele pediu encaminhamento dos adolescentes para tratamento com profissionais de saúde mental.

“A grande maioria dos adolescentes não tinha qualquer registro anterior e foi encaminhada para medidas socioeducativas, por entendermos não ser necessária a internação. Dois casos foram encaminhados para acompanhamento psicológico, por percebemos que a atitude deles decorre de problemas familiares, que desencadeiam em ações de ódio. Eles precisam de atendimento psicoterapêutico. Talvez seja fruto do período pós pandemia de coronavírus”, opina o promotor.

União

Para o juiz da Vara da Infância e da Juventude, Evandro Pelarin, o seminário serviu para mostrar para todos os educadores de Rio Preto que os problemas de violência no ambiente escolar precisam ser enfrentados de forma coletiva, com ações conjuntas em toda a rede de ensino.

“Precisamos aprimorar a cultura de paz nas escolas de Rio Preto. Para exemplificar, trouxemos como palestrante convidado o juiz Marcelo Salmaso, de Tatuí (membro do Comitê Gestor Nacional da Justiça Restaurativa do Conselho Nacional de Justiça), um dos maiores conhecedores da Justiça Restaurativa, que trouxe aqui para nós sua sabedoria para ajudar a aprimorar a cultura da paz em nossas escolas”, diz o magistrado.

Ao final do seminário, a Vara da Infância e da Juventude de Rio Preto apresentou casos de violência escolar em que a Justiça Restaurativa ajudou na mediação da situação e na recuperação dos estudantes envolvidos, com apoio dos educadores e familiares dos alunos envolvidos.

Mudança na rotina escolar

Os recentes ataques a escolas no País mudaram a rotina na rede pública educacional de Rio Preto, que agora tem mais rigor na entrada e saída dos alunos e maior patrulhamento da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Até um software de botão de pânico está prestes a ser lançado pela Prefeitura.

Recém-empossado como secretário municipal de Segurança Pública, o coronel Jean Charles falou que a pasta iniciou os estudos para aumentar a quantidade de câmeras de monitoramento em toda rede escolar de Rio Preto.

Ele também diz que em breve entra em funcionamento o aplicativo de celular, desenvolvido pela Prefeitura, para ser acionado em caso de ataque em unidade escolar para chamar as equipes mais próximas da Guarda e da PM.

A secretária municipal de Educação, Fabiana Zanquetta, afirma que a estratégia contra violência escolar é a adoção de medidas preventivas, como o uso da Justiça Restaurativa para resolver os conflitos nas escolas.

“Essa questão da Justiça Restaurativa já é uma realidade em nossa rede desde 2009, mas estamos intensificando, desde o retorno as aulas, após a pandemia do coronavírus e agora ainda mais com essas ocorrências. Lembrando que fazer ações antes é bem melhor do que apertar botões de ocorrências”, afirma a gestora. (MAS)

[email protected]