qui, 16 de janeiro de 2025

Jovem que acordou paralisado e venceu síndrome rara vira inspiração para moradores

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‘Como é gratificante saber que sua história faz alguém levantar da cama’, diz Eliandres, mãe do jovem Patrick. que conseguiu vencer a Síndrome de Guillain-Barré

A história do jovem Patrick Ramos de Oliveira, hoje com 19 anos, tem comovido, além de se transformar em inspiração para moradores de Catanduva. No auge dos seus 17 anos, aguardando para entrar na Faculdade de Tecnologia (Fatec) da cidade, ele, de uma hora para outra, não conseguia mexer mais nada do pescoço para baixo. Literalmente do dia para noite, a 2.246 quilômetros de distância de casa, na Ilha de Marajó, no Pará, Patrick descobriu uma doença rara: a Síndrome de Guillain-Barré. A partir daí, sua luta para dar a volta por cima começava.

A mãe, Eliandres Ramos de Oliveira, 43 anos, explica que a família sempre viaja de motorhome para vários lugares do País. Evangélicos, eles promovem cultos por onde passam e também ajudam famílias carentes com roupas e alimentos arrecadados. Eliandres conta que, em agosto de 2020, a família até tinha decidido não viajar por alguns meses, já que Patrick estava tentando passar na faculdade, mas, recebeu um chamado da Ilha de Marajó, onde famílias precisavam de ajuda. A família arrecadou o que pôde e foi até a ilha. Mas o que era para ser uma viagem de 30 dias durou um ano e oito meses, aproximadamente.

A descoberta

No dia 31 de agosto de 2020, Patrick, que tinha celebrado na noite anterior o aniversário da mãe, acordou com o corpo paralisado. “Ali começavam os piores dias da minha vida”, disse Eliandres.

Ela conta que, em um primeiro momento, achou que era cansaço, mas o coração de mãe falou mais alto e a família levou Patrick até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Breves, na Ilha de Marajó.

Patrick não conseguia fazer nenhuma das atividades sozinho, como se levantar, escovar os dentes, pentear os cabelos ou se vestir. Os médicos de plantão atenderam o jovem e já alertaram os pais de que poderia ser uma doença rara. “Quando ele falou, eu chorei muito, parecia que o mundo tinha desabado para nós, porque saímos de Catanduva para fazer uma coisa, ficar os 30 dias e retornar, e, de repente, tudo desaba na cabeça”.

Os médicos alertaram que a família precisava de três coisas que pareciam impossíveis naquele momento: uma aeronave equipada de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), um leito de neurologia em Belém — o que em meio à pandemia era praticamente impossível —, e uma vacina rara de imunoglobulina, contra esse tipo de inflamação nos nervos do corpo.

Mesmo sem conhecer quase ninguém na cidade, famílias ficavam na porta do hospital regional de Breves e se prontificavam a pegar as roupas de Patrick para lavar. Foram cinco dias até confirmar que se tratava da Síndrome de Guillain-Barré. A família conseguiu a aeronave, o leito em hospital em Belém do Pará e também a vacina para o tratamento da doença. Mas, lá no sexto andar do hospital, recebeu a notícia de que Patrick já estava tetraplégico.

Mesmo com muita fé, Eliandres se emociona lembrando que chegou a questionar o porquê daquilo estar acontecendo. “Eu até me emociono. Chegou um momento que disse pra Deus: a gente cuida das pessoas, ajuda, cumpre a missão independente da igreja, a gente prega Jesus”, diz.

Segundo a mãe, no hospital os médicos disseram que daquele momento para frente Patrick deveria passar por sessões de fisioterapia, mas poderia ficar com sequelas. Os especialistas alertaram que 75% das pessoas que desenvolvem a síndrome não reabilitam mais. “Nesse momento eu olhei para o médico e disse que eu creio e que na próxima consulta eu ia trazer meu filho andando”, contou.

E foi o que aconteceu. Eliandres, o marido, Paulo Ramos de Oliveira, e Patrick foram acolhidos por uma família de Castanhal, município do Pará. Desde então, o jovem passou por fisioterapia todos os dias e recebeu a notícia tão esperada: tinha passado na Fatec de Catanduva. Ele deu início à faculdade acompanhando as aulas on-line com a ajuda da mãe.

Um ano e oito meses depois, com Patrick andando, a família conseguiu autorização dos médicos e voltou para Catanduva. Hoje, o jovem consegue realizar todas as atividades sem a ajuda da mãe, anda normalmente, cursa a faculdade e vai começar a dar aulas de mentoria na faculdade. “Antigamente chegávamos de viagem (em Catanduva), s as pessoas perguntavam como tinha sido. Hoje já perguntam: cadê o menino? Como é gratificante saber que a sua história faz alguém levantar da cama. Patrick está perfeito”, finaliza.

Afinal, o que é a Síndrome de Guillain Barré?

Segundo o Ministério da Saúde, a Síndrome de Guillain Barré acontece quando o sistema imunológico do próprio corpo ataca parte do sistema nervoso, que são os nervos que conectam o cérebro a outras partes do corpo. É geralmente provocado por um processo infeccioso anterior e manifesta fraqueza muscular, com redução ou ausência de reflexos.

O neurocirurgião Ricardo Caramanti, do Austa Hospital, explica que, normalmente, a síndrome vem acompanhada de alguns sintomas. Por exemplo, o paciente pode ter uma diarreia ou gripe três semanas antes de começar a sentir fadiga, cansaço extremo e fraqueza. “Nosso corpo ataca aquele vírus da gripe ou da diarreia, e quando ele ataca tem uma reação cruzada. Acaba atacando uma proteína que envolve nossos nervos e acaba dando a síndrome por conta disso”.

Ele ressalta que o caso de Patrick, que foi de um dia para o outro, são casos mais atípicos. Geralmente, segundo o especialista, o paciente vai tendo uma piora dos sintomas, o maior deles é a fadiga. “No começo, o paciente acha que não tem nada. Ele demora um pouco para procurar por atendimento. No quadro clássico, a síndrome progride e com o tempo é como se os sintomas fossem subindo. O paciente tem uma dificuldade para respirar, e pode ficar intubado”.

Além disso, ele ressalta que a síndrome não é tão comum, muitos médicos não pensam nela em um primeiro diagnostico. Dois exames importantes detectam a síndrome: eletroneuromiografia, que vê os nervos, a condução dos nervos, e o exame de líquor.

Formas de tratamento

Segundo Caramanti, as formas de tratamento da síndrome envolvem duas opções: com imunoglobulina, para tentar fazer o sistema imunológico do paciente parar de atacar os nervos, e plasmaferese, quando tem uma máquina, o sangue passa por ela e tira aqueles componentes que estão atacando os nervos.

Luna Kfouri – diarioweb.com.br