Foto de predação faz parte do rico acervo do jornalista João Marcos Rosa envolvendo a espécie, chamada também de gavião-real.
Um registro feito em 2012 chamou a atenção recentemente nas redes sociais. A foto do jornalista e fotógrafo João Marcos Rosa mostra o momento em que uma harpia (Harpia harpyja) leva uma presa (ainda inteira) nas garras para o filhote, na Serra das Araras, em Cuiabá.
O profissional acompanha pesquisadores e realiza trabalhos com o gavião-real, a maior ave de rapina das Américas, desde de 2004, mas foi somente oito anos depois que o flagrante aconteceu. “Eu já tinha visto várias vezes a harpia chegando com as presas nos ninhos, mas nunca tinha conseguido uma foto que realmente demonstrasse a força e a potência daquela cena. Era uma foto que já existia há muito tempo na minha cabeça, mas faltava no meu acervo”, diz Rosa.
O fotógrafo já acompanhou diversos ninhos de harpias pelo Brasil. — Foto: João Marcos Rosa
Ele conta que era início de julho quando decidiu viajar até o Mato Grosso, a convite da pesquisadora Tânia Sanaiotti do Projeto Harpia, para o monitoramento de um ninho recém-descoberto. “Quando cheguei achei maravilhoso. Ele estava no topo de um jatobá, a 20 metros de altura – o que é mais baixo do que geralmente acontece na Amazônia. Mas não havia plataformas, então observamos do chão. O filhote já estava grandinho, mas a fêmea ainda estava bem presente”, relata.
No dia seguinte, acompanhado do colega e biólogo Renato Moreira, a observação começou em um mirante que possibilitava a visão do vale e do ninho, onde era possível perceber a imponência do jatobá. “Sempre me encantei pelas árvores elegidas pela harpia. Emergentes em meio a qualquer tipo de vegetação. As harpias são águias que planejam muito bem onde criarão os filhotes, tudo é calculado”, detalha João.
A decisão de caminhar novamente até o pé do ninho, inconscientemente, preparava para o momento especial. Segundo o jornalista, seus anos de experiência o ajudaram a perceber que o filhote começa a vocalizar mais alto quando os pais estão por perto, como um sinal de que quer comida. Foi o que aconteceu. Cerca de duas horas depois, com a ajuda de um binóculo, a fêmea foi avistada com uma presa nas garras.
Para um observador da natureza registros de predação estão entre as fotos mais desejadas, ainda mais quando se trata da maior águia das Américas que tem uma dieta, no mínimo, impressionante. Por isso, para João, o flagrante foi um momento de muita emoção. “Quando percebi que a presa estava inteira na hora o coração veio na boca e pensei que poderia ter a chance de fazer a foto que tanto sonhava. Tentei conter a empolgação e a começar a analisar os possíveis trajetos que ela poderia fazer até o ninho, calcular os ângulos e encontrar uma janela no meio da vegetação que me permitisse o flagrante”.
Era uma hora da tarde e seria preciso uma dose extra de paciência. “Brinquei que ela começou a torturar a gente, porque já se aproximava das 17 horas e nada. O sol já ameaçava a se esconder. Foi aí que, como num sonho, ela saltou do galho e cruzou o céu batendo as asas, passando no único local em que eu poderia ter aquele bicho inteiro no quadro da foto. Foi questão de segundos e eu nem precisava checar no visor, sabia que tinha conseguido”.
Ele conta que a primeira reação foi celebrar com o colega o fato de ambos terem presenciado a cena ao vivo, algo raro de se presenciar. “Depois quando vimos a foto comemoramos e ficamos muito emocionados. Sinto como se aquela fêmea tivesse me dado um presente que eu nunca vou esquecer”.