Entenda epidemia de ‘jogo do tigrinho’ que assola as redes no Brasil

A plataforma de jogos Fortune Tiger, conhecida nas redes sociais como “jogo do tigrinho” está por todos os cantos virtuais com promessas de ganhos acima do normal. Este caça-níqueis adaptado para celulares está se espalhando rapidamente pelas redes sociais, apesar das restrições impostas por gigantes da tecnologia como Instagram, WhatsApp, Facebook, X, antigo Twitter, e TikTok.

Nos últimos meses, o fenômeno se manifestou principalmente no Instagram, onde usuários têm relatado assédio de perfis falsos que fazem solicitações de amizade, marcam publicações sobre o tigrinho e oferecem bônus em dinheiro para quem fizer apostas. Porém, isso é apenas a ponta do iceberg.

Há indícios de que programas de afiliados, operando de maneira semelhante a esquemas de pirâmide, estejam por trás da produção massiva de spam. Nessas operações, quem publica links para a casa de apostas recebe uma comissão sobre o dinheiro perdido pelos apostadores convencidos a participar.

A Folha de S.Paulo encontrou em anúncios publicitários a possível origem desse spam relacionado a jogos de azar. Apesar das restrições, 2.217 publicações no Instagram, Facebook e WhatsApp mencionaram “tigrinho” e “Fortune Tiger” nos primeiros 20 dias de junho. Cerca de 40% dessas publicações estavam ligadas a programas de comissionamento por divulgação de links.

Os dados, extraídos da biblioteca de anúncios da Meta, levaram a perfis de afiliados e links idênticos aos encontrados nas contas falsas, que o Instagram proíbe por “comportamento inautêntico”. A Meta afirmou que exige autorização para propaganda de jogos de azar e trabalha intensamente para limitar a disseminação de spam, mas só a Folha conseguiu identificar 1.467 perfis diferentes, alguns recém-criados e com poucas informações, mas todos promovendo anúncios.

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) disse que a publicidade de influenciadores e afiliados é a principal fonte de queixas. “Até o começo de junho, já havíamos aberto quase 30 processos éticos sobre publicidade do segmento de apostas e enviado mais de 80 notificações a anunciantes e influenciadores”, informou.

Luiz Anselmo, advogado especializado em casas de apostas, afirmou em entrevista à Folha que as redes sociais deveriam barrar esse tipo de publicidade. “Quem tem que barrar são as redes sociais, mas elas não barram, provavelmente porque deve ser um investimento muito grande em marketing, em patrocínio”.

Os caça-níqueis, como o Fortune Tiger, não são legalizados no Brasil. Eles são oferecidos a partir de uma brecha na legislação, que permite jogos eletrônicos de quota fixa. No entanto, esses sites de apostas estão sediados em paraísos fiscais, como Malta e Curaçau, dificultando a responsabilização.

A popularidade do jogo do tigrinho cresceu rapidamente no Brasil. Segundo o Google Trends, o interesse partiu de zero em abril de 2023 para alcançar o pico de cem pontos possíveis em dezembro do mesmo ano, mantendo-se acima dos 50 pontos desde então.

Os programas de afiliados desempenham um papel crucial na expansão do jogo. Casas de apostas pagam um valor fixo sobre as apostas feitas através de links, incentivando os apostadores a convidar mais pessoas, criando um efeito cascata semelhante a esquemas de pirâmide. “O influenciador traz novos clientes e ganha em cima deles. Posteriormente, os novos clientes trazem outros e por aí vai”, explica Anselmo.

A prática se repete em outras redes sociais, como o X e o TikTok. Na plataforma de Elon Musk foram encontrados 132 perfis promovendo links de afiliados com o nome “Fortune Tiger”. A rede social chinesa é inundada por vídeos que ensinam supostas estratégias de vitória no caça-níqueis, atraindo ainda mais apostadores.

Fernando Cavalheiro, um influenciador curitibano, relatou receber propostas diárias para promover o jogo. “Para fazer seis publicações no mês, foram oferecidos R$ 25 mil e bônus de até R$ 50 para cada novo depositante. Caso o jogador perdesse dinheiro na plataforma, eu ainda ganharia 80% do valor apostado”. Ele acrescenta que os valores são tentadores, especialmente para influenciadores iniciantes.

Outros criadores de conteúdo digital com grandes seguidores, como Rodrigo Villar, têm capitalizado significativamente com esses programas de afiliados. Com 1,6 milhão de seguidores, ele divulga links de afiliados várias vezes ao dia em um canal com mais de 30 mil pessoas.

Além disso, prints de conversas no WhatsApp revelaram que influenciadores que promoviam o “jogo do tigrinho” recebiam uma conta especial, diferente das oferecidas aos usuários comuns, garantindo apostas viciadas para ganhar, conforme apontado pela polícia.

As mensagens foram interceptadas pela Polícia Civil de Alagoas com autorização judicial, como parte de uma investigação sobre um esquema de fraude que envolvia influenciadores, agenciadores e intermediários, conforme informações do colunista Carlos Madeiro, do UOL.

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