Enfermeira que sumiu no interior de SP era viciada no ‘jogo do tigrinho’, e tinha dívidas, diz mãe

Gabriely Sabino, de 23 anos, desapareceu em Piracicaba, neste game, jogadores apostam dinheiro com o objetivo de alinhar três figuras iguais em três fileiras e conseguir prêmios

A enfermeira Gabriely Sabino, de 23 anos, que desapareceu após sair de casa e deixar o carro em um estacionamento, em Piracicaba, interior de São Paulo, contraiu dívidas porque estava viciada no “jogo do tigrinho”. Esse jogo é uma espécie de caça-níquel virtual, em que os jogadores apostam dinheiro com o objetivo de alinhar três figuras iguais em três fileiras, o que resultaria em prêmios financeiros. A revelação foi feita pela mãe da jovem, Cristiane Sabino, que só soube do fato após o desaparecimento da filha, no último dia 14.

Segundo a mãe, a família desconhecia o vício no jogo. “A gente não sabia que ela tinha essas dívidas. Fomos procurar entender e algumas coisas vieram à tona, como a de que ela estava viciada no jogo do tigrinho, estava devendo para muita gente, inclusive agiotas. Por isso ficou com medo e fugiu. Ela sempre foi uma menina trabalhadora, nunca dependeu de ninguém, até surgir esse problema do vício.”

Gabriely escondeu esse problema da família, disse Cristiane. “Ela sempre nos respeitou e, com 23 anos, eu não ficava em cima dela. Como nunca nos deu trabalho, não tinha porque ficar xereteando a rede social dela”, relata Cristiane.

“Então acumulou alguma dívida, ficou amedrontada e deve ter conversado com alguém na rede social que prometeu alguma coisa para ela. ‘Se você for, vai ter dinheiro, vai pagar’, por isso ela aparece bem sossegada indo para a rodoviária. Chegou lá não era nada disso”, diz a mãe.

Cristiane acredita que a filha está sendo mantida em cárcere privado por alguém e proibida de fazer contato com a família. “Tudo o que a gente pede é que a polícia não pare de investigar. Ela pode estar em perigo, sendo coagida, explorada por alguém. Nós, a família, precisamos de resposta. É nossa única filha, sempre fui muito amada e bem tratada em casa.”

Moradora do Parque Orlanda I, em Piracicaba, Gabriely saiu de casa na tarde de 14 de junho para ir ao trabalho. Ela deveria ter retornado por volta da uma hora da madrugada, o que não aconteceu.

Imagens de câmeras de monitoramento flagraram a jovem deixando seu carro em um estacionamento e caminhando em direção ao terminal rodoviário de Piracicaba. Segundo o apurado pela polícia, ela teria tomado um ônibus com destino ao Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo.

A jovem havia se formado enfermeira em janeiro do ano passado e, enquanto buscava colocação na área da saúde, trabalhava em uma padaria e como motorista de aplicativo. A família denunciou o desaparecimento e o caso passou a ser investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Piracicaba. Amigos e parentes se mobilizaram pelas redes sociais.

Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse, em nota, que uma das hipóteses investigadas é de que Gabriely possa ter sido cooptada para transportar drogas para o exterior. Nesta sexta-feira, 21, a SSP informou que o caso continua em investigação.

O Fortune Tiger, conhecido popularmente como Jogo do Tigre ou Jogo do Tigrinho, é um jogo de apostas e cassino online caracterizado como jogo de azar, desenvolvido pela empresa maltesa Pocket Games Soft. A PG Soft se identifica em sua rede social como um “estúdio de jogos móveis de classe mundial que reúne uma equipe de desenvolvedores, matemáticos, artistas talentosos e figuras experientes da indústria”.

A PG Soft não tem sede ou representação fixa no Brasil. No país, jogos em que se depende exclusivamente da sorte para ganhar ou perder são considerados contravenção (crime de menor potencial ofensivo), previsto na Lei das Contravenções Penais.

A pena é de prisão simples de três meses a um ano, além de multa. A divulgação desses jogos caracteriza crime contra as relações de consumo, com previsão de pena de detenção de dois a cinco anos e multa na Lei de Crimes contra a Economia Popular.

A reportagem não conseguiu contato com a PG Soft. Estadão

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