Depois de uma manhã de intensa crise dentro do PSDB, desencadeada pelo anúncio do governador João Doria de que tinha desistido da corrida presidencial, colocando em xeque a candidatura de Rodrigo Garcia ao Palácio dos Bandeirantes e sua posse como comandante do Estado, os tucanos selaram a paz no final da tarde desta quinta, 31.
Em evento com 619 prefeitos no Palácio dos Bandeirantes, marcado por abraços, sorrisos e discursos, Doria confirmou que será candidato à Presidência da República. Com isso, Rodrigo Garcia assumiu o governo de São Paulo e tentará a reeleição pelo PSDB. Rodrigo tem agenda marcada em Rio Preto nesta sexta, 1º de abril, para entrega de 52 viaturas da Polícia Militar já na pele de governador do Estado. O evento será no Centro Regional de Eventos, às 13h15.
Os momentos registrados na “festa tucana” no fim de festa mostraram clima oposto ao vivido ao longo de horas nesta quinta com ameaças até de ruptura entre Doria e Rodrigo, além de partidos alinhavados ao PSDB. O Diário antecipou, no início da tarde, que Doria já havia mudado de ideia e que iria renunciar, como estava inicialmente previsto. A afirmação foi feita pelo deputado federal Geninho Zuliani (União Brasil), de Rio Preto, aliado próximo de Rodrigo Garcia.
A confirmação de Rodrigo Garcia como governador e candidato à reeleição amenizou a preocupação de aliados em relação à corrida eleitoral, na qual o tucano ainda patina nas pesquisas de intenção de voto, atrás de nomes como Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Márcio França (PSB).
Segundo a assessoria de Rodrigo Garcia, o termo de renúncia de Doria foi protocolado às 16h33 na Assembleia Legislativa. No entanto, o próprio comunicado do governo estadual afirmava que Doria ficaria como governador “até sábado, dia 2”. A data foi suprimida em novo comunicado do Estado, divulgado no início da noite. Doria afirmou no evento que Rodrigo assumiria o governo no dia 2. Por volta das 20h, a assessoria do Estado divulgou a agenda em Rio Preto já com Rodrigo como governador.
Afagos:
“Sim, serei candidato à Presidência da República e pelo PSDB. Teremos um novo Brasil”, afirmou Doria, que rasgou elogios a Rodrigo Garcia, a quem chamou de “amigo, colega e parceiro leal e dedicado”. “Ao longo destes três anos e três meses, São Paulo teve o privilégio de ser governado por dois governadores”, disse Doria,
Já Rodrigo Garcia retribuiu o tom cordial como forma de mostrar unidade dentro do partido, que horas antes vivia cenário de racha. “Sabemos da importância para o Brasil daquilo que você fez em São Paulo e fará no restante do Brasil. Portanto, hoje não sou eu que tenho de brilhar aqui, é você. O Brasil merece João Doria”, afirmou.
O presidente da Alesp, Carlão Pignatari, também defendeu a candidatura de Doria à Presidência da República e de Rodrigo ao governo estadual. “Eu desconheço uma pessoa tão competente, capacitada e leal a você como Rodrigo Garcia. Não tenho nenhuma dúvida: é Rodrigo Garcia em São Paulo e João Doria em Brasília”, discursou Pignatari.
Cumprido:
O prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (MDB), afirmou que “cumpriu-se o acordo firmado entre João Doria e Rodrigo Garcia”. Depois das importantes ações e conquistas com João Doria à frente do governo do Estado, agora Rodrigo vai impor o seu estilo próprio de governar para todos os paulistas e, como conhecedor profundo do Estado em todas as áreas. Este trabalho e dedicação nos próximos meses, com certeza, serão reconhecidos em outubro, elegendo Rodrigo como governador do Estado para os próximos quatro anos”, defendeu o emedebista.
Tucano cita ‘estratégia política’
João Doria (PSDB) afirmou a jornalistas, ao final de seu discurso de despedida do cargo de governador, que as notícias sobre a desistência de concorrer à Presidência da República foram uma “estratégia política”. Segundo o tucano, houve um planejamento prévio para que o presidente do partido, Bruno Araújo, tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome.
“Diria que foi um comportamento estratégico. Isso faz parte da vida política também, ter estratégia para poder construir caminhos e solidificar esses caminhos. Não se pode agir apenas emocionalmente, a política exige raciocínio e eu aprendi a ter raciocínio no setor privado. Isso (o boato de que desistiria) foi para fortalecer a nossa candidatura e o PSDB”, disse Doria.
Ao negar que desistiria da disputa, o presidenciável falou em planejamento. “Houve um planejamento para que pudéssemos ter aquilo que conseguimos, o apoio explícito do PSDB a partir de seu presidente, Bruno Araújo. A carta que ele assinou não deixa nenhuma dúvida nem agora nem depois. O PSDB elegeu, em processo democrático das prévias, um candidato. Não há questionamento, não há golpe possível”, afirmou em referência a Eduardo Leite, que renunciou ao governo do Rio Grande do Sul na segunda, 28, colocando-se como opção ao partido.
A manobra, considerada arriscada por muitos, foi exaltada por aliados presentes nesta quinta, 31. “Doria deu um xeque-mate no PSDB e tem agora uma carta que garante sua candidatura. O grupo que tenta puxar o tapete dele passou por uma desratização”, disse a deputada federal Joice Hasselmann (PSDB) ao Estadão.
Outro ex-bolsonarista, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB), seguiu na mesma linha. “O partido precisava de um chacoalhão para entender o que está acontecendo. Eduardo Leite está forçando a barra.”
Na carta, Bruno Araújo reafirma que João Doria foi escolhido democraticamente, por meio de prévias, como candidato do partido à Presidência da República e ressalta que o processo será respeitado pela sigla. “O governador (Doria) tem a legenda para disputar a Presidência da República. E não há, nem haverá, qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido. Aproveito a oportunidade para reafirmar o compromisso do PSDB com o processo democrático brasileiro.”
Diário da Região