O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), evitou hoje anunciar medidas mais restritivas para o controle da pandemia de covid-19, um dia depois de o estado atingir um novo recorde de mortes diárias. Além de manter as regras da fase vermelha do Plano São Paulo, Doria anunciou uma próxima etapa de vacinação contra a doença causada pelo novo coronavírus. A partir do dia 22, serão imunizados idosos entre 72 e 74 anos.
Atualmente, o estado ainda vacina idosos com 77 anos ou mais, mas o governo paulista já anunciou nesta semana que pessoas com 76 e 75 anos começarão a ser vacinadas na próxima segunda-feira (15). Na capital, a Prefeitura de São Paulo retomará a vacinação no sistema drive-thru, que havia sido suspenso no último sábado (6).
Recorde de mortes e colapso
Com apenas atividades essenciais em funcionamento desde o fim de semana e quase 20 unidades de saúde já com 100% da ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para a covid-19 no estado, era esperado que Doria anunciasse novas medidas restritivas, como restrições ao horário de funcionamento do comércio que permanece aberto. Mas o governador optou por adiar a possibilidade de anúncio de uma fase roxa do Plano São Paulo, em estudo desde o fim de fevereiro.
Com as internações em alta, a pressão crescente sobre o sistema de saúde deixa o atendimento médico cada vez mais ameaçado.
O estado já soma 19 unidades de saúde em colapso, com 100% dos leitos de UTI para a covid ocupados. Até ontem, outros seis hospitais também registravam ocupação acima de 95%. Ontem, foram registrados 517 óbitos por covid em 24 horas.
Em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, a Prefeitura afirmou que 11 pacientes morreram à espera de um leito de UTI, após não conseguirem a transferência para outras unidades de saúde do estado.
Tragédia anunciada
Não é a primeira vez que Doria adia um aperto nas restrições de circulação. Há pelo menos dois meses, os membros do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo avisam o governo estadual sobre uma piora crescente nos dados da pandemia e a possibilidade de um colapso no sistema de saúde.
Nesse mesmo período, segundo apuração da reportagem, o comitê sugeriu, em praticamente todas as reuniões junto ao governador, que a circulação fosse reduzida ao máximo, adotando a fase vermelha em todo estado ou mesmo um toque de recolher a partir das 22h.
As orientações foram recebidas, mas amenizadas pelo governador. Um exemplo foi a adaptação do “toque de recolher” para “toque de restrição”, anunciado no fim de fevereiro.
Os principais argumentos do governo para não adotar uma medida rígida como lockdown seria a pressão do setor comercial, que envolve desde lojistas até agricultores do interior paulista, e a falta de auxílio emergencial à população, que não poderia trabalhar e, assim, não teria dinheiro para se alimentar.
A resposta oficial, então, tem sido a criação de novos leitos. Na última segunda (8), a gestão de Doria prometeu abrir 280 leitos de emergência para a covid-19 até o fimde março, que serão instalados em 11 unidades de saúde na capital, no litoral e no interior, considerados como novos hospitais de campanha. Hoje, foram anunciados mais 338 novos leitos, sendo 167 para UTI.
O governo paulista também tem feito apelos à população para seguir as regras da fase vermelha, além de reforçar a importância do uso de máscaras. Desde o último sábado, apenas atividades essenciais podem funcionar em todo o estado, que vê a piora da pandemia impulsionada, principalmente, pela transmissão da variante de Manaus do coronavírus, tida como mais contagiosa.