Estresse e ansiedade podem ser fatores agravantes e até mesmo desencadeantes de transtornos alimentares durante isolamento social.
As mudanças no mundo têm impacto direto sobre nosso comportamento e, por conta desse período de isolamento e readaptação da rotina, é comum que tenhamos sentimentos alterados. Estresse, ansiedade, medo, angústia e solidão são algumas das sensações envolvidas no turbilhão emocional causado pela pandemia do coronavírus. Junto aos crescentes casos de contágio e as reforçadas medidas de prevenção, nossa saúde mental e emocional também estão em pauta.
De acordo com uma publicação de abril feita pelo jornal britânico The Lancet, cientistas do King’s College de Londres fizeram uma revisão sobre o impacto psicológico da quarentena decorrente do coronavírus. Após analisarem 24 estudos, os pesquisadores concluíram que a maioria revela repercussões negativas como sintomas de estresse pós-traumático, raiva e confusão.
Mas, como a pandemia e seus desdobramentos afetam os distúrbios alimentares e suas manifestações? Segundo o psiquiatra Eduardo Aliende Perin, de São Paulo, um estudo recente do Hospital Universitário de Barcelona, na Espanha, mostrou que 38% dos pacientes relataram piora dos seus sintomas alimentares durante o confinamento e 56% relataram aumento da ansiedade e estresse, elevando o risco de “beliscar” alimentos o dia todo.
O período de pandemia é uma situação atípica e inusitada, que impacta diretamente as reações emocionais das pessoas. “Elas estão mais ansiosas, preocupadas e com medo e por não haver perspectivas de quando essa situação irá acabar. Todos estão mais suscetíveis a apresentar distúrbios psicológicos e também psiquiátricos”, reforça a nutróloga Dra. Marcella Garcez. Além disso, Muitas pessoas que estão em isolamento podem passar a ter uma autoimagem prejudicada, um importante fator de risco para transtornos alimentares e, assim, passam a desenvolver transtorno alimentar. De outra maneira, lidar com a solidão do confinamento pode fazer com que o indivíduo, que já tinha um diagnóstico, desenvolver uma exacerbação do quadro.
A internet pode ser um fator importante nesse sentido. É o que enfatiza o psiquiatra: “Problemas de saúde, ganho de peso e sedentarismo servem como fatores precipitadores para o desenvolvimento de distúrbio alimentar em indivíduos vulneráveis na quarentena. A maior exposição à mídia e a corpos esbeltos e magros também pode ser muito deletéria”.
Geralmente os portadores de transtornos alimentares já apresentam sinais leves dos distúrbios ao longo dos anos. “Porém, em uma situação como essa de maior estresse emocional pode ser o fator agravante e até mesmo desencadeante de sintomas mais significativos”, explica Marcella.
Primeiros sinais de distúrbio alimentar
Os mais frequentes – bulimia nervosa e anorexia nervosa – geralmente começam acompanhados de ansiedade e obsessão por manter-se magro, aliada à presença de baixa auto-estima, que são seguidas de alterações de hábitos alimentares.
No caso da bulimia nervosa, a pessoa tem episódios de compulsões alimentares, seguidas de métodos compensatórios inadequados como vômitos induzidos, uso de laxantes ou diuréticos e prática de exercícios em excesso, para evitar o ganho de peso.
Para Dra. Marcella, o transtorno mais comum durante o isolamento é a compulsão alimentar periódica, que pode evoluir para bulimia nervosa é a principal causa é a ansiedade do momento atual. “Quem tem compulsão alimentar periódica apresentam episódios de compulsão alimentar, porém diferentemente da bulimia, não utilizam métodos purgativos para eliminar os alimentos ingeridos, nem têm grande preocupação com o peso e a forma corporal”, explica. Nesse caso, essas pessoas tendem a perder o controle durante os frequentes episódios de compulsão e só conseguem parar de comer quando se sentem fisicamente desconfortáveis.
FONTE: Informações | revistamarieclaire.globo.com