Vinte suspeitos foram presos nesta terça-feira (26) na Operação Cadeia Alimentar II. Ao todo, foram cumpridos 55 mandados de busca e apreensão em 27 municípios paulistas.
Agentes públicos e empresários alvos da Operação Cadeia Alimentar II, deflagrada nesta terça-feira (26) em 27 cidades paulistas, chegaram a repartir entre si 100% do dinheiro pago por prefeituras para o fornecimento de merenda escolar de escolas públicas, segundo o delegado da Polícia Federal, Bruno Rigote.
O produto comprado, no entanto, sequer era entregue, conforme apontou a investigação. O acordo fechado entre os suspeitos previa que metade do valor ficasse com o empresário, enquanto a outra metade era repassada ao servidor ou até mesmo ao prefeito.
Alguns contratos com irregularidades chegam a R$ 10 milhões. O Ministério Público Federal (MPF) e a PF apontam que as fraudes atingem de 10% a 14% dos contratos analisados. Ainda não há um balanço final do valor desviado dos cofres públicos.
Apesar de os produtos pagos não terem sido fornecidos, o delegado disse que a PF não tem informação sobre a falta de alimentos nas escolas das cidades alvo. “Foi observado que havia prejuízo na qualidade da merenda oferecida na rede pública.”
Alvos
Cerca de 240 policiais prenderam 20 suspeitos e cumpriram 55 mandados de busca e apreensão. Sete investigados são foragidos, mas dois deles devem se apresentar na quarta-feira (27). As ordens de prisão temporária foram expedidas pela 4ª Vara da Justiça Federal de Ribeirão Preto/SP. Também foi determinado o bloqueio no valor de R$ 2 bilhões em bens.
Os presos foram levados para as sedes da PF em Santos, São Paulo, Piracicaba, Sorocaba, Campinas, Araraquara e Ribeirão Preto.
Cidades alvos nesta terça-feira
- Americana: 3 mandados prisão e 3 busca/apreensão;
- Atibaia: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- Campinas: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- Cotia: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- Cubatão: 1 mandado de prisão e 4 busca/apreensão;
- Franca: 2 mandados de prisão e 3 busca/apreensão;
- Garça: 1 mandado de busca/apreensão;
- Guarujá: 2 mandados de busca/apreensão;
- Itapevi: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão
- Jandira: 1 busca/apreensão;
- Matão: 1 mandado de prisão e 2 busca/apreensão;
- Orlândia: 1 mandado de busca/apreensão;
- Osasco: 1 mandado de busca/apreensão;
- Paulínia: 4 mandados de busca/apreensão;
- Praia Grande: 2 mandados de busca/apreensão;
- Rio Claro: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- Santos: 2 mandados de prisão e 2 busca/apreensão;
- São Carlos: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- São Joaquim da Barra: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- São José do Rio Preto: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- São Paulo: 3 mandados de prisão e 8 busca/apreensão;
- São Roque: 2 mandados de prisão e 3 busca/apreensão;
- São Vicente: 2 mandados de prisão e 5 busca/apreensão;
- Sorocaba: 1 mandado de prisão e 2 busca/apreensão;
- Sumaré: 1 mandado de prisão e 1 busca/apreensão;
- Taquaritinga: 1 mandado de prisão e 3 busca/apreensão;
- Votorantim: 1 mandado de busca/apreensão.
Entre os alvos de busca estão o ex-prefeito de Franca/SP, Alexandre Ferreira, ex-prefeitos de Cubatão/SP e São Roque/SP, uma vereadora e a Câmara dos Vereadores em Guarujá/SP, além dos gabinetes das prefeituras de Taquaritinga/SP, Jandira/SP e Cubatão .
Foram cumpridos mandados de prisão contra cinco ex-secretários de prefeituras, dois secretários em exercício, um procurador de Justiça do município em exercício, quatro funcionários públicos, quatro lobistas e três empresários.
A PF informou que os nomes não serão divulgados porque a investigação ainda está em andamento.
Os suspeitos responderão pelos crimes de organização criminosa, fraude em licitações, falsidade ideológica, corrupção ativa, prevaricação e corrupção passiva. Somadas, as penas podem chegar a 28 anos de prisão.
Modo de operação
Segundo o delegado Bruno Rigote, a segunda fase da operação tem como alvo agentes públicos identificados a partir da colaboração premiada de investigados presos em abril de 2018.
As licitações fraudadas tinham o resultado direcionado para que a empresa escolhida vencesse a concorrência.
“Eles chamam isso de ‘trava’ ou ‘cadeado’. Se coloca um item na licitação para direcionar para determinada empresa. Se uma outra empresa ganhar a licitação, há possibilidade de pagar corrupção também, para que a empresa que ganhou seja desqualificada. A empresa que ficou em segundo lugar e pagou corrupção entrava”, diz Rigote.
Segundo a PF, a propina entre os envolvidos podia ser acertada de três formas:
- Eram desviados 10% do valor do contrato quando o próprio Executivo ou o funcionário público procurava a empresa envolvida na licitação;
- No caso do envolvimento de lobistas, que representavam prefeitos, o pagamento era de 14%, dos quais 4% ficavam com o lobista e 10% iam para os agentes públicos;
- Quando a empresa emitia uma nota fiscal, muitas vezes superfaturada, o Executivo pagava, mas o produto não era entregue. Neste caso, 50% eram desviados para o empresário e outros 50% ficavam com o agente público.
De acordo com o delegado, o lobista era o responsável por indicar as contas bancárias para os pagamentos ou por receber os valores acertados em espécie. “Nós temos comprovado na investigação tanto pagamento com depósitos em conta dos próprios funcionários públicos, de terceiros, como parentes, escritórios de advocacia, na conta dos lobistas, e também grandes indícios de entrega de dinheiro em espécie, inclusive em sedes de poder Executivo.”
Elementos para nova operação
A PF estima que os desvios aconteciam desde 2013. Em abril de 2018, quando foi deflagrada a Operação Cadeia Alimentar I, a PF prendeu o empresário José Geraldo Zana, dono do frigorífico Mult Beef, com sede em Brodowski/SP. Na época, Zana foi apontado na participação de fraudes em licitações de merenda escolar em 32 municípios paulistas. Ele também foi acusado de sonegar R$ 32 milhões em impostos.
“Esse frigorífico participava de licitações no estado inteiro. Colaborou com as investigações e apresentou provas de diversas fraudes. Eles têm conhecimento de outros empresários, outros servidores, e pode colaborar”.
Após as prisões nesta terça-feira, o delegado disse que outros cinco acordos de colaborações premiadas estão sendo negociados. As informações dos suspeitos serão analisadas pela força-tarefa. “Um empresário confirmou o recebimento de R$ 150 mil em propina desviada”, diz Rigote.
Documentos apreendidos e prisões
Na região de Ribeirão Preto, dois foram presos em Franca e um em São Joaquim da Barra. Uma pessoa investigada em Taquaritinga/SP é considerada foragida. Nestas cidades e em Orlândia foram cumpridos mandados de busca e apreensão.
Ainda em Franca, a casa do ex-prefeito Alexandre Ferreira foi alvo dos policiais. Um celular e um computador foram apreendidos. Ele disse que colaborou com o trabalho, mas que não sabe o que está sendo investigado. O ex-chefe do Executivo disse ainda que não teve acesso ao processo, mas que está à disposição da polícia.
Alexandre Ferreira foi prefeito de 2013 a 2016. O ex-tucano está em processo de filiação ao MDB, é funcionário da Prefeitura e trabalha na Vigilância Sanitária.
Em São José do Rio Preto/SP, um empresário que atua no ramo de material escolar foi preso em casa, em um condomínio de luxo na região Sul. Além da prisão, objetos foram apreendidos no local.
Em Americana, uma servidora e os secretários do primeiro escalão, Alex Niuri Silveira da Silva, titular da pasta de Assuntos Jurídicos, e Dirineu Soares de Barros Júnior, responsável pela Secretaria de Governo, foram presos.
O advogado dos dois secretários, Willey Sucasas, afirmou que a prisão é “inadequada” porque eles sempre estiveram à disposição para prestar esclarecimentos. O defensor ainda informou que vai pedir reconsideração da decisão que determinou a detenção deles.
FONTE: Informações | G1/EPTV