Campeão mundial pelo São Paulo, Thiago Ribeiro venceu depressão após oito anos: “partida mais difícil da vida”

Perto dos 38 anos, Thiago Ribeiro detalha batalha pela saúde mental e brinca sobre ter “evitado” o rebaixamento do Palmeiras em 2014: “Não acho que meu gol salvou”

Thiago Ribeiro Cardoso tem um currículo no futebol de fazer inveja. Campeão mundial pelo São Paulo em 2005, o atacante foi artilheiro da Conmebol Libertadores pelo Cruzeiro, ergueu taça pelo rival Atlético-MG e teve a missão de ajudar Gabigol após Neymar deixar o Santos.

Prestes a completar 38 anos, ele comemora a maior vitória da sua vida. E ela não está ligada ao esporte: o fim da depressão após quase oito anos convivendo com a doença.

Bem física e mentalmente, Thiago Ribeiro é o principal reforço do Catanduva, time que tem um padre que também é prefeito da cidade como presidente e estreia na Série A3 do Campeonato Paulista.

– O que me motiva a continuar jogando é o prazer, a paixão e o amor pelo futebol. Continuo com a mesma alegria de quando comecei, fisicamente me sinto bem e com quase 38 anos ainda consigo performar, com força, velocidade e jogar com a intensidade que exigem hoje.

– Isso me faz entender que enquanto tiver essa alegria e ânimo, vou continuar jogando. Se chegar com 40, 41 anos ainda bem, vou seguir. O dia que sentir o meu corpo dando sinais de perda de intensidade, lesões… vou deixar o meu corpo dizer até quando eu posso jogar – disse Thiago Ribeiro ao ge.

Mais sobre o entrevistado

  • Nome: Thiago Ribeiro Cardoso
  • Idade: 37 anos (24 de fevereiro de 1986)
  • Profissão: jogador de futebol (atacante)
  • Carreira: Rio Branco, Bordeaux-FRA, São Paulo, Al-Rayyan, Cruzeiro, Cagliari, Santos, Atlético-MG, Bahia, Londrina, Guarani, Bragantino, Novorizontino, Chapecoense, Democrata-MG e Catanduva.
  • Títulos: campeão mundial de Clubes (2005); campeão brasileiro (2006); tricampeão mineiro (2009, 2011 e 2015); bicampeão da Série B (2019 e 2020); campeão paulista (2015), e Florida Cup (2016).
  • Prêmios individuais: artilheiro da Conmebol Libertadores 2010.
Revelado em 2004 pelo Rio Branco, de Americana, Thiago Ribeirou deixou o interior paulista direto para o futebol europeu. Foram poucos jogos e uma passagem curta no Bordeaux, da França, até retornar ao Brasil para defender o São Paulo.

Nos dois primeiros anos no Morumbi, foi campeão mundial (2005) e brasileiro (2006).

Mas a maior disputa de toda a sua vida começou no fim de 2014. Vivendo bom momento no Santos, Thiago Ribeiro perdeu o prazer de treinar, jogar futebol e viver: o jogador foi diagnosticado com depressão. Negacionista no início, aos poucos aceitou que precisava de apoio psicológico e tratamento médico especializado para se recuperar.

Essa foi a partida mais difícil que joguei, não digo na carreira, mas na vida. Essa depressão e opressão que passei na minha carreira não me afetou apenas no lado profissional, me atrapalhou em todas as áreas da minha vida
— Thiago Ribeiro

– Isso me afetou muito profissionalmente, sempre fui um jogador de explosão, velocidade, muito resistente. Sempre que voltávamos de férias naqueles testes físicos os meus sempre foram muito bons. Depois que passei por esse problema, afetou minha velocidade, resistência, foco e concentração.

– Perdi bastante peso nesse período, fiquei muito magro e você fica sujeito a lesões. A gente tenta tirar o lado bom até dos momentos difíceis que passa. Coloquei minha fé em Deus acima de tudo, busquei tratamento psicológico, com psiquiatra, entrei com medicação por praticamente quase um ano fazendo tratamento – revelou ao ge.

Mesmo doente, Thiago Ribeiro seguiu a carreira como pôde. Caindo de rendimento ano a ano e sofrendo para manter a forma física – sem se alimentar direito -, o jogador rodou por oito clubes diferentes em oito temporadas até vencer a depressão.

– Na época eu fui muito amparado pelos clubes, o Santos principalmente. Depois passei pelo Atlético-MG, Bahia e depois retornei ao Santos. Eu só falava o básico, não me abria muito sobre como estava. Eu tinha receio de as pessoas não entenderem, pensarem que estava de má vontade. Não é algo tão superficial para resolver, muitas vezes você jogando em alto nível, recebendo um bom salário e não entendem como pode estar tendo problema, não treinar um dia, não jogar, ficar afastado.

– Não é algo tão simples de lidar. Nunca me abri 100% para falar por não me sentir à vontade. Muitas vezes o jogador não se sente à vontade para se abrir e colocar o que pensa sobre a depressão, muito por não saber a reação. Percebo que hoje existe uma preocupação maior, mas ainda não é uma coisa fácil de lidar.

Em 2022 foi quando comecei a sentir o Thiago de volta, foram oito anos de luta. Foram três, quatro anos complicados…
— Thiago Ribeiro.

A depressão é considerada o mal do século pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em caso de qualquer problema de saúde mental, procure ajuda.

Salvou o Palmeiras da Série B?

Thiago Ribeiro não quer a fama de ter evitado o terceiro rebaixamento do Palmeiras para a Série B do Brasileiro. E o rótulo de salvador, que tomou conta da internet e é lembrado até hoje, não faz sentido.

Foi na primeira passagem pelo Santos que Thiago Ribeiro virou meme e teve o nome comentado entre os torcedores dos quatro grandes rivais de São Paulo. O atacante marcou o gol da vitória do Santos sobre o Vitória, fora de casa, na última e decisiva rodada do Brasileirão de 2014.

Em São Paulo, os jogadores do Palmeiras assistiam aflitos pela televisão a partida. Após empatar com o Atlético-PR, em casa, o Verdão torcia contra o time baiano, que em caso de vitória confirmaria o terceiro rebaixamento palmeirense à Série B do Brasileiro.

Apesar de não ter sido determinante, o gol de Thiago Ribeiro pelo Santos talvez tenha sido o mais comemorado pela torcida do Palmeiras em 2014. Mas ele descarta o rótulo de salvador.

– Eu levo na esportiva, na brincadeira. Acredito que não tenha relação [a fase atual do Palmeiras] com o que aconteceu em 2014. O meu gol foi no último lance do jogo e o cenário daquele momento era o seguinte: o Palmeiras empatou com o Athletico e o Vitória precisava ganhar do Santos. O empate não servia. Eu fiz o gol aos 48 minutos do segundo tempo, praticamente o último lance do jogo, o árbitro tinha dado dois, três minutos de acréscimo. Tanto é que depois que fiz o gol, quando o Vitória coloca a bola no meio para dar a saída, o árbitro termina o jogo.

– Se não faço o gol, o jogo terminaria zero a zero e de nada adiantaria. O Vitória cairia do mesmo jeito, e o Palmeiras se livraria. Não vejo que o meu gol salvou o Palmeiras, só serviu para dar um alívio maior porque quando fiz o gol os torcedores pensaram que o Vitória teria de fazer dois. O meu gol não mudou o destino, se o Palmeiras hoje vive um momento bom é o trabalho – disse Thiago Ribeiro.

Veja abaixo outros trechos da entrevista com Thiago Ribeiro:

Homenagem do São Paulo pela conquista do Mundial

– Foi muito legal. O São Paulo valoriza bastante os jogadores que foram campeões. Dificilmente um clube sul-americano será novamente campeão mundial, fiquei muito feliz e todos nós que participamos fomos homenageados. Recebemos um anel para homenagear os jogadores, todos ficaram felizes pelo reconhecimento.

Balanço da carreira

– Apareci no São Paulo muito novo, um clube que apostou quando ninguém me conhecia. Tenho carinho pelo Rio Branco, passei pela França antes de retornar para o São Paulo. Foi o primeiro grande clube do Brasil que joguei e alcancei sucesso, reconhecimento e tirei fotos na rua, onde comecei a receber bons salários, onde conquistei títulos.

– No Cruzeiro foi onde apresentei minha melhor versão, fui artilheiro da Libertadores e só faltou um título de expressão. Vice da Libertadores e do Brasileirão. Muito carinho pelo Santos onde fiquei dois anos e meio, conquistei título paulista e um ano no Atlético-MG onde tenho muito carinho. Vivi bons momentos em todos eles, também gostei de atuar no Cagliari.

Turbulência em voo do São Paulo

– Impossível esquecer uma situação dessas. De toda a minha vida andando de avião foi a pior situação que já vivi, só quem estava naquele avião sabe o que passamos. O mando era do Palmeiras e o clássico foi disputado em Presidente Prudente. A primeira metade do voo foi tranquila, céu aberto e na segunda metade do voo fechou o tempo e começou a chover.

– O avião começou a balançar, de repente deu uma queda grande e acabei batendo a cabeça na saída do ar-condicionado, estava sem cinto. Foram duas ou três quedas dessa, tinha gente vomitando, passando mal e muita gente ali achando que o avião ia cair. Tinha gente pedindo perdão pelos pecados, todo mundo já se preparando para o pior. Quando o avião deu uma estabilizada e cheguei no Doutor Sanchez e falei que tinha batido a cabeça. Ele me olhou e falou: “Olha, Thiago. Senta lá, vamos esperar o avião pousar e a gente vê o que faz”. Esse dia a gente achou que o avião ia cair.

Padre, prefeito e presidente do Catanduva

– O Padre Osvaldo é uma pessoa maravilhosa, extraordinária e muito educado. Ele gosta das coisas certas, é um lado positivo e na verdade ele se divide em três funções. Imagina a correria que não é o dia a dia dele. Sempre que pode procura ir no treino, quando não consegue passa no restaurante. Ele acompanha alguns jogos e é bastante exigente. Não gosta de palavrão, essas coisas, e quer resultado, bom futebol e rendimento. Ele faz a parte dele e temos que fazer a nossa, é uma situação diferente ter um padre como presidente do clube.

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