Confirmação da presença da representante da oposição venezuelana ocorreu minutos antes da cerimônia em que vários novos embaixadores foram recebidos pelo presidente.
O Palácio do Planalto incluiu de última hora a representante no Brasil do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, a professora Maria Teresa Belandria , na lista de embaixadores que apresentaram cartas credenciais ao governo brasileiro, na manhã desta terça-feira (4). A presença da venezuelana foi confirmada pela Presidência dois minutos antes do início da cerimônia.
Belandria foi a primeira a ser recebida por Bolsonaro, no Salão Leste do Palácio do Planalto. Risonho, o presidente abraçou a representante de Guaidó e, durante breve conversa com o auxílio de um tradutor, parabenizou a embaixadora pela coragem, ao que ela agradeceu, em espanhol. Belandria deixou o local sem falar com a imprensa.
O presidente brasileiro estava sentado ao lado do chanceler Ernesto Araújo. Também acompanhavam Bolsonaro o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Otávio Brandelli, e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins.
Na última sexta-feira, depois de o Itamaraty e a própria representante de Guaidó confirmarem na véspera que ela havia sido desconvidada da cerimônia, o Planalto informou que a decisão estava em aberto e seria “avaliada em momento mais oportuno”. Na ocasião, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, reiterou que o governo do presidente Jair Bolsonaro segue reconhecendo Guaidó como “presidente legítimo” da Venezuela.
Na tradição diplomática, a apresentação das credenciais marca o início formal dos trabalhos de um representante de governo estrangeiro no país em que vai servir. Nesta terça, além de Belandria, Bolsonaro recebeu no Planalto os novos embaixadores de México (Ignácio Piña Rojas), Colômbia (Dario Alonso Montoya Mejía), Paraguai (Bernardino Hugo Saguier Caballero), Arábia Saudita (Ali Abdullah Bahitham), Peru (Javier Raúl Martin Yépez Verdeguer), Guiné (Kabinet Konde) e Indonésia (Edi Yusup).
A decisão do governo brasileiro de desconvidar Belandria havia provocado tensão com a oposição venezuelana, já que o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer, em janeiro, o “governo encarregado” de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional do país vizinho. O argumento é que o segundo mandato de Nicolás Maduro, iniciado em 10 de janeiro, é ilegítimo, já que ele foi reeleito em um pleito sem condições de disputa democrática.
Procurada pela imprensa, Belandria evitou dar detalhes sobre uma possível negociação entre Guaidó e o governo brasileiro, e limitou-se a dizer que “este foi um assunto meramente protocolar”.
No entanto, fontes venezuelanas confirmaram que o recuo do Palácio do Planalto e do Itamaraty foi o resultado de uma intensa negociação que começou na semana passada e envolveu pressões de países que integram o Grupo de Lima, formado por 12 governos do continente. A retirada de Belandria da lista desagradou a outros governos da região que também reconhecem Guaidó como presidente interino.
Duas semanas antes da cerimônia realizada nesta terça-feira, a representante de Guaidó foi chamada ao Palácio do Itamaraty e informada sobre os “riscos jurídicos” que o governo brasileiro via na entrega de suas cartas credenciais. Esses riscos tinham a ver com a possibilidade de ela reivindicar ocupar o prédio da Embaixada da Venezuela, onde trabalham representantes indicados pelo governo de Nicolás Maduro — formalmente, os dois países não romperam relações e Maduro ainda exerce, de fato, a Presidência venezuelana.
Antes do recuo desta terça, fontes do governo brasileiro disseram à imprensa que, apesar do reconhecimento de Guaidó como “presidente legítimo”, estão nas mãos de Maduro assuntos que interessam diretamente ao Brasil: o controle da fronteira, o fornecimento de energia ao estado de Roraima, a saúde dos rebanhos das fazendas limítrofes e a troca de informações relacionadas a temas como epidemias e imigração.