Decisão revolta parte dos párocos, que reclamam de dificuldade financeira
O bispo de Catanduva, Valdir Mamede, determinou aos padres da diocese que comanda a “contribuição compulsória” de R$ 300 por mês para ajudar a Curia a arcar com o pagamento de indenização de R$ 210 mil. O montante destina-se a uma jovem de 19 anos, que teria sofrido abuso sexual do padre Osvaldo Donizeti da Silva, conhecido como Barrinha.
O valor seria descontado do pagamento mensal de cada um dos 47 padres da diocese. O piso salarial dos sacerdotes no Brasil é de dois salários mínimos, ou seja R$ 2, 7 mil.
Para avisar sobre o desconto, o bispo enviou um áudio no último dia 8 de março deste ano em um grupo do clero diocesano, no WhasApp. A decisão sobre o desconto salarial de todos os padres teria sido tomada no começo da semana, pela cúpula da diocese.
Condenação
De forma inédita, o juiz Vinicius Nunes Abbud, da Vara Única de Urupês, condenou o padre de Novais e a Diocese de Catanduva a indenizarem a jovem, que teria sofrido abuso sexual durante uma confissão, dentro da igreja, em 2013. Ainda cabe recurso em 2ª instância.
Mesmo após a condenação, padre Barrinha é mantido por dom Valdir como sacerdote na Paroquia da Imaculada Conceição, em Novais.
No áudio, dom Mamede diz que a contribuição dos padres é necessária, porque os R$ 210 mil, com correção monetária e custas processuais, sobe para R$ 500 mil. O bispo diz que há, inclusive, um fundo financeiro iniciado, com dinheiro da cúria e do padre Barrinha.
“Nós somos convidados, por dez meses, a contribuir com R$ 300, para que nós consigamos o valor suficiente para poder pagar o resultado que for fixado em segundo grau, para indenização, caso não haja recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)”, disse o bispo.
Conforme os dois áudios divulgados por dom Mamede, ficam isentos da contribuição os padres aposentados e portadores ou com parentes com doença grave.
“Aqueles que não puderem contribuir, façam chegar através de uma carta motivada, que diz “eu não posso contribuir por esse motivo ou eu não quero contribuir por esse motivo”. Então, os casos, nestas possibilidades, serão analisados por mim e pelo ecônomo e vigário-geral da diocese”, diz o bispo.
“Aguardo possíveis cartas com pedidos de exoneração (isenção). Já digo de princípios que, nos casos com os quais eu já tratei diretamente, estão aceitas as razões” conclui o bispo.
“Os padres que se recusaram a contribuir foram ameaçados de serem mudados de suas paroquias, o que causou muita tristeza entre nós do clero”, diz o padre que não quis se identificar.
O Diário solicitou posicionamento da assessoria jurídica da Diocese de Catanduva, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.
Entenda o caso
- Em 2013, durante confissão em igreja de Sales, que pertence à Diocese de Catanduva, o padre Osvaldo Donizete da Silva teria abusado sexualmente de uma menina de 11 anos
- A menina relatou o ocorrido a familiares, que procuraram a polícia
- O padre Barrinha, como o religioso é mais conhecido, chegou a ser colocado na cadeia de Novo Horizonte ainda em 2013, por força de prisão preventiva
- Em dezembro de 2013, o sacerdote foi condenado a nove anos e quatro meses por estupro de vulnerável
- Ele cumpriu pena até janeiro de 2014, no Centro de Ressocialização de Presidente
- Prudente, até ser libertado com base em recurso julgado no Tribunal de Justiça de São Paulo que converteu a sentença de estupro de vulnerável para importunação sexual, uma contravenção penal
- No fim de fevereiro deste ano, o padre e a Diocese de Catanduva foram condenados a pagar R$ 210 mil de indenização à vítima por danos morais
- A Diocese foi condenada, segundo o juiz Vinicius Nunes Abbud, da Vara Única de Urupês, pois o padre valeu-se da condição de representante do Bispado de Catanduva para cometer o crime.
Marco Antonio dos Santos – diarioweb.com.br