Defesa sustenta que o que ocorreu foi um acidente; álcool com ervas foi derramado na cabeça da criança e houve combustão devido à proximidade da vela ao corpo
A baixa imunidade foi o que motivou a tia, a mãe e os avós maternos de uma menina de cinco anos a buscarem um rito espiritual que terminou com a criança queimada e morta na cidade de Frutal, a 112 quilômetros de Rio Preto. A afirmação vem da defesa dos familiares, presos desde o dia 20 de abril, na “Operação Incorporação da Verdade”, desencadeada pela 5º Delegacia Regional de Minas Gerais.
A menina teve quase 100% do corpo queimado após receber uma infusão de álcool misturado com ervas pelos cabelos, no dia 24 de março. Quando foi passada uma vela perto do corpo da criança, houve a combustão. Ela chegou a ser transferida ao Hospital da Criança e Maternidade de Rio Preto, mas morreu no dia seguinte.
Uma reconstituição do crime, ainda sem data definida, será feita com os familiares. A advogada Juliane Martins, que defende os avós, maternos, a mãe e a tia da menina, diz que foi um acidente e vai pedir a reversão da prisão do avô, que está debilitado. O objetivo é que o idoso responda ao processo em prisão domiciliar.
“Desde o início a gente pediu que eles contassem a verdade, mas não contaram. Com medo de retaliação, devido à religião, num primeiro momento, eles optaram por ocultar e falar que aconteceu o acidente com a churrasqueira”, disse a advogada Juliane.
Segundo a defesa, o médium teria mentido no depoimento quando foi ouvido pela Polícia Civil. O delegado Murilo Antonini, que comanda as investigações, diz que foram apresentadas várias versões. “Todos os investigados foram ouvidos, alguns duas ou três, e, no decorrer do inquérito, apresentaram versões diferentes”, afirmou.
O delegado disse ainda que a resolução do caso deve acontecer na reprodução simulada do que aconteceu no dia dos fatos envolvendo a criança. “Na reconstituição nós poderemos colocar todas essas versões e ver se ganha faticidade. A investigação não é feita só de provas subjetivas, é feita de provas técnicas. Nos Estados Unidos, se o investigado mentir, comete um crime. Aqui não. Ele pode, inclusive, calar-se. A mentira pode até ser usada como estratégica. Ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo”, completou.
A família da menina teria decidido procurar o guia espiritual porque a avó dela é benzedeira. Além disso, três pessoas do grupo familiar foram vítimas da Covid-19, chegaram a ser intubados e, em outras consultas com o mesmo guia, acreditam que foram curados da doença.
“[A criança] não foi entregue a magia negra, como o pessoal está falando. Eles acreditavam na religião. Infelizmente a gente não discute e tem muito preconceito. A tia é professora de catequese e a igreja católica não permite essas coisas”, conta a advogada da família.
A defensora diz ainda que os pais da menina pagavam plano de saúde e, por conta da baixa imunidade, chegaram a procurar médicos antes do ritual. Sem saber o que acometia a menina, decidiram tentar curar a criança de forma espiritual.
A mãe, a tia e os avós maternos continuam presos na cadeia feminina de Uberlândia e a menina foi enterrada no distrito de Santo Antônio do Rio Grande, em Fronteira (MG).