qui, 16 de janeiro de 2025

Assalto ao Iguatemi rendeu R$ 1,7 mi aos criminosos, revela investigação

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Ministério Público denuncia à Justiça 9 pessoas por roubo a joalheria em shopping de Rio Preto. Documento revela detalhes da ação da quadrilha

“Cadê os Rolex?”. A pergunta resume um dos momentos mais tensos do roubo de R$ 1,7 milhão em joias e relógios de luxo à joalheria Costantini, no Shopping Iguatemi, em Rio Preto, no dia 14 de janeiro. O Diário teve acesso com exclusividade à denúncia protocolada na sexta-feira, 25, na 1ª Vara Criminal no Fórum, pelo promotor de Justiça Sérgio Acayaba de Toledo, em que é relatada em detalhes a ação da quadrilha.

O Ministério Público denunciou à Justiça nove pessoas acusadas pelos crimes de associação criminosa, roubo, receptação e adulteração de sinal identificador de veículo automotor. Destes, seis estão presos e três estão foragidos. Foram acusados de participação no roubo: Eduardo dos Santos Cruz de Souza, Alan Márcio Pereira Lima, Jessé Cezar Girão Cândido, Peterson Willy dos Santos, Zenildo Caetano da Silva Filho, Leonardo Pereira de Oliveira, Ewerton de Oliveira Pires, Ítalo Matheus Lima Pires e Caroline Costa Brandão. Apenas um integrante da quadrilha, identificado como “Fael”, que também participou do roubo, ainda não foi identificado pela Polícia Civil.

De acordo com o representante do Ministério Público, os integrantes da organização criminosa chegaram ao shopping em dois veículos. Caroline e Alan ficaram do lado de fora dando cobertura, enquanto que os demais integrantes do grupo entraram no prédio separados.

Segundo o promotor, Ítalo é quem aparece sentado na cadeira de rodas e leva escondida no colo uma metralhadora, com Leonardo o empurrando. Em seguida, entram Zenildo e Jessé. Mais um pouco entrou ‘Fael’ e, por último Ewerton, utilizando bengala e peruca, enquanto que Eduardo usa uma blusa de abrigo preta. Toda a movimentação foi registrada pelas câmeras de segurança do shopping.

“Ítalo e Leonardo se dirigem à Joalheria Costantini e quando ingressam na loja anunciam o assalto. Leonardo ostenta um revólver prateado e Ítalo uma metralhadora. Após eles abordarem os funcionários da joalheria, um terceiro integrante (Jessé) ingressa na loja, também armado”, consta na denúncia.

Jessé ordena que a funcionária vá com ele onde está o cofre, mandando que ela digite a senha da porta, o que ela, com medo, faz. Enquanto isso, Ítalo e Leonardo ficam com o funcionário, exigindo que ele pegue as joias e os relógios que estavam expostos, inclusive perguntando: “cadê os Rolex?”, questionam os assaltantes.

Jessé passa a pegar todas as joias e relógios que estavam no cofre. “Ítalo, no comando da organização criminosa, fica ‘acelerando’ o roubo, dizendo para agilizarem”, consta na denúncia do MP.

O promotor menciona, inclusive, que durante o roubo Ítalo segura um fone de ouvido conectado em seu aparelho celular e, quando estão prestes a deixar o local, “ele coloca o referido fone em seu ouvido, através do qual se comunica com os demais integrantes da organização, que davam apoio à ação criminosa”.

‘Irmão, já deu’

Um quarto integrante da organização entra na joalheria e diz: “irmão, já deu… vamos embora, pois escutamos no rádio do segurança que já sabem do roubo”. Todos saem da loja, mas um dos assaltantes retorna e pega uma funcionária como refém.

Enquanto o roubo acontecia, os outros membros da organização criminosa renderam os seguranças do shopping e pegavam as suas armas para evitar alguma reação deles que pudesse impedir ou dificultar os planos do grupo.

O promotor cita que Ewerton vai em direção a um vigilante, que estava parado no posto fixo defronte à uma loja, e se aproxima mancando e utilizando uma bengala, além de uma peruca de cabelo longo e liso. O segurança suspeitou da atitude, se posicionou para realizar procedimento de abordagem, mas o assaltante lhe pergunta onde fica a loja Kopenhagen.

“E, diante da indagação, o segurança aponta a direção de tal loja, momento no qual Ewerton larga a bengala e saca a pistola que trazia com ele, dizendo para não reagir, pois o shopping estava ‘todo tomado’ e não era para apertar o botão (referindo-se ao botão de pânico), bem como exigiu que ficasse de cabeça abaixada, sob a ameaça de levar um tiro”, afirmou Acayaba na denúncia.

O promotor relata que o outro segurança, que estava no posto fixo defronte à Joalheria Costantini, havia se dirigido ao terraço do andar, ao lado de seu posto, para advertir alguns jovens que passaram a realizar baderna. “E, ao sair do terraço para retornar ao seu posto, o integrante que usava boné escuro, camisa social azul clara e uma bolsa lateral (Fael), passou a caminhar apressadamente em direção a ele, para abordá-lo”, disse Acayaba.

Desconfiado, o segurança informou que iniciou manobra para abordar tal homem, mas foi rendido por outro integrante do grupo. O vigilante relatou que apontaram uma pistola para sua cabeça dizendo que não era para se mexer, senão seria morto.

Os seguranças estavam equipados com sistema de pânico em seus coletes. Eles ouviram quando os assaltantes comentaram até sobre a frequência do rádio que era utilizada pelos seguranças. Na saída do shopping, os integrantes da organização criminosa fizeram um cliente como refém, apontando revólver para a cabeça da vítima. Um segurança e uma funcionária foram liberados, após o grupo deixar o local rumo à São Paulo.

A Justiça vai analisar se recebe ou não a denúncia do MP. Se condenados, as penas previstas pelos crimes variam entre 3 anos a 10 anos de prisão. Dos dez integrantes da organização criminosa, apenas um ainda não foi identificado.

O roubo

O roubo na joalheria Costantini, que fica no segundo piso do Shopping Iguatemi, é feita por dois assaltantes, às 20h15 do dia 14 de janeiro

Entram na loja fingindo que um deles é cadeirante. Perto do balcão da joalheria, o falso deficiente saca a arma e anuncia o assalto

Os bandidos pegam joias no cofre e saem da joalheria levando uma vendedora como refém. Usada como escudo humano, ela é obrigada a acompanhar os bandidos até a saída do shopping

Toda a ação dentro da loja dura quatro minutos

Durante o trajeto de saída, bandidos pegam armas de seguranças do shopping

Clientes e lojistas, assustados, se escondem dentro de lojas

Ladrões ‘alugaram’ armas por R$ 20 mil

Integrantes da organização criminosa “alugaram” os revólveres e a metralhadora usados no roubo à joalheria no Shopping Iguatemi em Rio Preto em 14 de janeiro deste ano. O Diário apurou que eles pagaram cerca de R$ 20 mil para uma organização criminosa pelo “aluguel” do armamento.

A reportagem constatou ainda que nenhuma peça roubada foi recuperada durante a investigação. Na denúncia do Ministério Público consta que, logo após os assaltantes deixarem o prédio do shopping, foi iniciada uma caçada pela Polícia Civil e Polícia Militar para prender os integrantes da quadrilha.

Em um carro abordado em Americana, estavam Eduardo dos Santos Cruz de Souza e Alan Márcio Pereira Lima. No momento da prisão, eles estavam com três telefones celulares. A partir daí, a Polícia Civil pediu à Justiça mandados de busca em São Paulo e, em um dos endereços, encontraram malas de viagens prontas na sala. Encontraram no imóvel os documentos de Ítalo Matheus Lima Pires.

Os investigadores tomaram conhecimento do assalto à joalheria em Sorocaba, em que os indivíduos usavam as mesmas roupas do crime em Rio Preto. Ítalo Matheus Lima Pires já era procurado pelo crime de roubo. A partir disso, os integrantes da organização criminosa foram identificados.

A Justiça autorizou a quebra do sigilo telefônico dos acusados. Segundo o Ministério Público, foram identificadas conversas relacionadas ao roubo no Shopping Iguatemi. Os investigadores localizaram uma folha de papel com informações acerca da dinâmica dos crimes e distribuição dos “lucros”.

Exames periciais na joalheria e nos veículos ajudaram a identificar mais membros da organização criminosa. “No dia 16 de janeiro de 2022 foi encontrado um terno preto abandonado em uma cerca pelos integrantes da organização criminosa após os roubos, na Estrada da Matinha”, consta na denúncia do promotor Sérgio Acayaba. Em um dos bolsos havia um papel com o número de telefone celular.

De acordo com a denúncia, no momento de sua prisão, Zenildo Caetano da Silva Filho estava com os cabelos cacheados longos, na altura dos ombros, como captados pelas imagens das câmeras do shopping. “Após a sua prisão, quando estava nas carceragens da Deic de Santos, com suas mãos, arrancou os cabelos, e na carceragem da Deic de Rio Preto, acabou por raspar ainda mais seus cabelos, visando se isentar de eventual reconhecimento pessoal”, consta na denúncia.

Organização distribuía tarefas

O Ministério Público concluiu que a organização criminosa foi estruturada com o objetivo de roubar joalherias em centros de compras no Estado. Para isso, eles usavam veículos roubados e trocavam as placas dos carros. E cada um tinha sua função definida no grupo.

“Os líderes, que exercem o comando da organização criminosa e a financiam, são Ewerton (de Oliveira Pires) e Ítalo (Matheus Lima Pires), respectivamente tio e sobrinho. Eles são os autores intelectuais dos crimes, arquitetando-os e controlando todo o evento criminoso, conseguindo as armas utilizadas pela organização, além de também executarem os crimes”, consta em trecho da denúncia obtida pelo Diário.

O delegado da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), Paulo Buchala Júnior, disse que identificou entre os integrantes da organização criminosa: o líder, um gerente para fazer o recrutamento de assaltantes, responsáveis pelo levantamento do local, os batedores para dirigirem os carros de fuga e o preparador de veículos.

“Na organização criminosa, cada um sabia como iria agir dentro do shopping. Alguns iriam render os seguranças, outros ficariam do lado de fora e outros ingressaram na loja”, afirmou Buchala Júnior. “Cada um tinha sua definição de tarefas”.

Estruturação

Segundo o promotor de Justiça Sergio Acyaba de Toledo, Ítalo tinha o papel de recrutar membros do grupo. Leonardo e Jessé foram apontados como “executores” do roubo nos shoppings. Eduardo (dos Santos Cruz de Souza), Zenildo (Caetano da Silva Filho) e ‘Fael’ eram responsáveis por fazer o levantamento de informações do alvo da organização dias antes da ação.

As informações sobre a segurança do shopping, rotas de fuga, melhor trajeto e modo de agir dos funcionários foram repassadas à Ewerton e Ítalo. “Sendo que os comandantes da organização criminosa financiam os gastos com a viagem até a cidade onde pretendem praticar o roubo”, consta na denúncia.

Acayaba, que elogiou a investigação realizada pela Deic, disse que na organização havia olheiros. Eles não participaram diretamente do roubo, “mas ficam monitorando toda a situação do lado de fora do estabelecimento alvo, procedendo à rendição de seguranças que eventualmente apareçam e dando suporte para os executores” e “aguardando nos veículos a serem utilizados na fuga”.

Logística

Na denúncia consta ainda que Alan (Márcio Pereira Lima), primo de Ítalo e Caroline (Costa Brandão) – companheira de Ewerton – atuam na logística do crime como “batedores”, ou seja, dirigem os veículos que serão utilizados no crime até o local do roubo. “No dia do crime se posicionam fora do estabelecimento comercial, monitorando a situação dos fatos, como a aproximação de policiais e aguardando para dar fuga a todos”, afirmou o promotor.

Já Peterson Willy dos Santos foi identificado como o responsável pela preparação dos veículos utilizados nos crimes, recebendo os veículos de origem ilícita, retirando-lhes as placas e colocando placas ‘dublês’, visando ocultar a origem criminosa dos veículos. (RL)

Rodrigo Lima – diarioweb.com.br