qua, 15 de janeiro de 2025

Aos 9 anos, menino que chamou atenção em desfile da PM em Rio Preto sonha em ser policial

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Mãe do garoto diz que família apoia o sonho: “A criança não tem maldade. Maldade está na cabeça do ser humano”

Há pelo três anos, o pequeno Kauê Gusttavo Rondini Batista tem um sonho: ser policial militar. O menino, de 9 anos, que vive com os pais — os empresários Mayara Patrícia Rondini e Sidnei da Silva Batista — no Jardim Gabriela, zona norte de Rio Preto, chamou a atenção dos internautas, recentemente, após aparecer com uma arma de brinquedo no desfile cívico em comemoração dos 190 anos da Polícia Militar no Estado.

Em entrevista ao Diário, Mayara, a mãe de Kauê, contou que a paixão do garoto pela Polícia Militar nasceu com visitas da família ao batalhão. O gosto pelo ofício foi tanto que, em 2019, o aniversário de 7 anos do menino teve como tema a corporação.”Quando ele vê viatura, fica animado, tem muita amizade com os policiais e às vezes a gente acorda a noite e ele está fardado em casa”, contou Sidnei. No desfile deste ano, Kauê havia comemorado dias antes seu aniversário e ganhou de seu tio um “fuzil de brinquedo”, que ele levou, entusiasmado, para o evento.

O menino, que ainda está no 4º ano da Escola Municipal Oldemar Stobbe, confirmou que quando crescer quer ser policial. “Eu acho da hora”, afirmou a criança, que sonha em ser um membro da “tropa de elite” da PM, como os policiais do Batalhão de Ações Especiais (Baep) da Polícia Militar.

Família apoia o sonho
A publicação da foto de Kauê durante o desfile nas redes sociais dividiu os usuários das plataformas. Enquanto algumas pessoas parabenizaram e apoiaram a participação do menino no evento, outros internautas criticaram a presença de crianças no local.

A mãe diz ter visto pessoas dizendo que o gesto do menino incentivaria morte a negros e homossexuais, o que ela e o marido afirmam “não verem sentido”. “Não tem nada disso. É um sonho de uma criança. A criança não tem maldade. Maldade está na cabeça do ser humano, que é podre”, desabafou a empresária, que disse ter ficado chateada com a situação e reforçou que apoia 100% o sonho do filho.

“O que estiver no nosso alcance pra ele ser polícia vamos fazer, porque não tem nada de errado. Errado é fazer as coisas erradas no mundo”, disse Mayara. Ela ressaltou também que o filho frequenta a escola, recebe educação em casa e tem tudo que necessita como criança.

“O que precisa mais? Um sonho precisa carregar um livro? Cada profissão é um dom. O médico tem os equipamentos dele e o policial tem o dele. Cada um é uma coisa. As pessoas não sabem o sonho de uma criança e muitas vezes o destroem”, disse.

O desfile
O desfile do qual Kauê participou, a convite da própria PM, aconteceu no dia 12 de dezembro, na avenida Alfredo Antônio de Oliveira. Na ocasião, a polícia informou à reportagem que um pelotão de 40 crianças desfilou sob responsabilidade dos pais. Algumas delas, como Kauê, portavam armas de brinquedo.

De acordo com a PM, as crianças foram convidadas a desfilar fardadas, ação que é sempre recorrente em solenidades da corporação. O anúncio para crianças que quiserem participar de eventos da PM é feito regularmente pelas redes sociais do Comando de Policiamento do Interior 5 (CPI-5).

Entidades criticam
Dias após o desfile cívico da PM, o grupo Justiça e Paz Rio Preto, ligado à Igreja Católica, emitiu opinião oficial sobre a presença de crianças no evento. “A banalização do uso de armas dificulta ainda mais a compreensão da população sobre a complexidade dessa questão. Reafirmamos nossa adesão ao pensamento do papa Francisco em favor da cultura da paz”, afirmou em nota.

Movimentos de esquerda também repudiaram a presença de crianças com réplicas de armas no desfile. “Arma não é brinquedo! E achar que é “normal” criança com arma na mão expõe a crueldade, a perversidade e a miséria humana. Por um mundo sem violência”, diz a nota, assinada pelo coletivo feminista “Lugar de mulher é onde ela quiser”, junto ao Núcleo de Ação pela Reforma Agrária, Central de Movimentos Populares (CMP), Frente de Lutas dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Oeste Paulista (Flttn), Comitê Lula Livre de Rio Preto e a Comissão Pastoral da Terra.

Minimizou
Na ocasião, juiz Evandro Pelarin, da Vara da Infância e Juventude de Rio Preto, relativizou a cena. “Eu não vi propriamente réplica de armas. Vi uma ou outra que parecia ‘nerf’, aquelas que são usadas para jogar dardos de borracha. De todo o modo, e não sei se não prestei atenção direito, pois acabei conversando com os deputados que estavam perto, não vi ou ouvi ninguém comentando sobre isso. Acho que não chamou tanta atenção dos presentes”, afirmou ao ser questionado pela Coluna do Diário.

(Colaborou Maria Elena Covre)

Arthur Pazin –

Foto: Guilherme Baffi – diarioweb.com.br