André Oliveira Macedo, entrou nessa terça-feira (13) no site da Polícia Civil. Ele é acusado de enviar cocaína à Europa. Polícia faz operação para tentar encontrar traficante, que está foragido após ser solto pelo STF. O MP e a polícia apuram se ele fugido em jato particular para o exterior.
André Oliveira Macedo, o André do Rap, de 43 anos, entrou nesta terça-feira (13) na lista dos criminosos mais procurados pela polícia de São Paulo. Segundo policiais ouvidos pelo G1, essa é a primeira vez que ele entra nessa lista onde atualmente aparece mais 21 bandidos.
A inclusão do nome, foto e dados do traficante, que está foragido da Justiça e é considerado um dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que atua dentro e fora dos presídios do Brasil, estão no site da Polícia Civil paulista. Quem tiver informações sobre seu paradeiro, pode ligar para o número (11) 3311-3148 ou o 181 do Disque-Denúncia. Não é preciso se identificar.
A Polícia Federal (PF) pediu que a Interpol, espécie de polícia internacional, também colocasse André do Rap no seu sistema. Mas até a publicação desta reportagem, ele não aparecia na lista da Difusão Vermelha do órgão.
Ele também não aparecia na página do Ministério da Justiça, onde estão os principais criminosos do Brasil.
André do Rap estava preso desde setembro de 2019, quando foi preso num condomínio de luxo em Angra dos Reis, litoral fluminense, numa operação da Polícia Civil de São Paulo. Ele era investigado por gerenciar o envio de grandes remessas de cocaína à Europa.
Mas o traficante desapareceu no último sábado (10), horas depois de o ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), revogar a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, que havia determinado a soltura dele dando um habeas corpus.
Mello havia atendido o pedido da defesa de André do Rap, que alegava que seu cliente estava preso desde o final do ano passado sem uma sentença condenatória definitiva por causa da prisão no Rio de Janeiro. E que isso excedia o limite de tempo previsto pela legislação brasileira. O G1 não conseguiu localizar o advogado do traficante para comentar o assunto nesta terça.
A legislação processual brasileira mudou em 2020, com o pacote anticrime, determinando que prisões provisórias sejam revistas a cada 90 dias para verificar se há necessidade de manutenção da prisão, o que, segundo Mello, não ocorreu no caso de André do Rap.
Ele estava preso por duas condenações em segunda instância por tráfico internacional de drogas, com penas que totalizam 25 anos, nove meses e cinco dias de reclusão em regime fechado.
Mas Mello também já havia dado habeas corpus em favor de André do Rap nesses dois processos. Sendo que em um deles ainda não havia trânsito em julgado. Diante disso, o ministro entendeu que ele deveria ser solto imediatamente.
Levantamento feito pelo G1 mostra que o ministro já mandou soltar quase 80 presos usando o mesmo critério de André do Rap.
O traficante deixou o presídio de Presidente Venceslau, interior paulista, durante a manhã do sábado passado. À noite, ele já era procurado pela polícia paulista, mas não foi localizado nos endereços que forneceu à Justiça para ser solto.
Apesar de não haver provas do paradeiro de André do Rap, as polícias Civil e Federal trabalham com a possibilidade de ele ter fugido do país.
A soltura de André do Rap fez com que Fux decidisse levar o caso para discussão no STF, em Brasília, ainda nesta quarta-feira (14).
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou a decisão de Mello em soltar o traficante e elogiou a de Fux em mandar prendê-lo novamente.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) montou uma força-tarefa, envolvendo três departamentos policiais especializados de São Paulo, para tentar recapturar André do Rap.
Para o Ministério Público (MP) de São Paulo, André do Rap pode ter deixado a penitenciária no interior de São Paulo, ter viajado até Maringá, no Paraná, e embarcado para o Paraguai.
Promotores e procuradores disseram que já tinham pedido à Justiça a manutenção da prisão de André do Rap. Após a decisão de Mello soltá-lo, a polícia não pôde seguir os passos do traficante porque, ao sair da prisão, ele era um homem livre.
Mas por, se tratar de um criminoso perigoso, os serviços de inteligência monitoraram à distância, a movimentação dele e tem a certeza que o traficante usou um avião particular para fugir do Brasil. A polícia também suspeita que ele esteja no Paraguai ou Bolívia.
André do Rap foi preso em 2019 após ficar seis anos foragido da Justiça. Ele havia sido encontrado pela polícia numa casa de luxo em Angra dos Reis, litoral fluminense.
O promotor Lincoln Gakiya, que investiga a ação do PCC, e o delegado Fabio Pinheiro Lopes, que coordenou a operação que prendeu André do Rap em 2019, afirmam que será muito difícil conseguir prender o traficante novamente.
“Impossível não é, mas vai ser difícil”, afirma Lincoln Gakiya, promotor de justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).
“Para nós foi um banho de água fria, porque ele tem duas condenações já em segunda instância. Ele estava condenado a 15 anos em uma, e a dez em outra, já em segunda instância. Ele usa várias empresas de fachada, então, para conseguir capturá-lo de novo, vamos ter uma grande dificuldade. Ele é o maior atacadista de cocaína do país”, diz Fabio Pinheiro Lopes, delegado e diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Segundo a pasta da Segurança, além do DHPP, policiais dos departamentos Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e de Operações Policiais Especiais (DOPE) estão em diligências para tentar encontrar o traficante.
As polícias civis do Paraná, Santa Catarina e São Paulo procuram o traficante desde que ele voltou a ser considerado foragido da Justiça.
Prisão em 2019
André do Rap foi no ano passado, em uma operação da Polícia Civil paulista no litoral do Rio de Janeiro. Segundo a investigação, ele chegou a morar no exterior.
Antes disso, tinha ficado preso por 7 anos, até 2014. Em 2019, quando preso, ele chegou a São Paulo no próprio helicóptero.
Ele era procurado pela Interpol e a operação contou com uma equipe de 23 policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), e do Grupamento de Operações Penitenciárias Especiais (Gope) e da Divisão Antissequestro.
André do Rap foi encontrado em um condomínio de luxo no bairro Itanema, que fica às margens da BR-101 (Rodovia Rio-Santos).
Na residência, foram apreendidos dois helicópteros, um deles um B 4 avaliado em cerca de R$ 7 milhões e uma lancha de 60 pés, avaliada em R$ 6 milhões. A casa era alugada, mas ele tinha uma mansão na cidade, fora de um condomínio.
Lancha ajudou a encontrá-lo
A lancha foi um dos elementos que ajudaram a polícia a localizá-lo em 2019. Os investigadores descobriram que uma empresa de fachada comprou a embarcação, e a pessoa responsável era alguém que não tinha rendimentos o suficiente para arcar com os valores.
André do Rap era dono de um sítio investigado pelo Deic em Bertioga.
Segundo o Deic, ele substituiu Wagner Ferreira, o “Cabelo Duro”, assassinado na porta de um hotel no bairro do Tatuapé, Zona Leste, logo depois dos assassinatos de Gegê do Mangue e Paca, no Ceará. Segundo a polícia, até 2018, o tráfico de Santos era comandado por Gegê do Mangue.
André já era conhecido da polícia e ficou sete anos e meio preso, até ser solto em 2008.
Tráfico internacional
André do Rap comercializava drogas para a Europa, segundo a polícia.
O esquema de tráfico que envolvia André foi descoberto em 2013, considerado um dos maiores esquemas de remessa de cocaína do Brasil ao exterior pelo porto santista.
Investigações da Polícia Federal resultaram nas apreensões de 3,7 toneladas da droga, no país e fora dele, entre janeiro de 2013 e março de 2014. Também foi apurado o vínculo do PCC com a máfia italiana “Ndrangheta”.
O Ministério Público Federal ajuizou ações penais para cada uma das apreensões, que denominou de “eventos”. O traficante estava envolvido em dois deles.
Em um, chamado de evento nº 2, houve a interceptação de 84 quilos de cocaína, em 23 de agosto de 2013. A droga seria despachada no navio MSC Vigo para o porto espanhol de Valência
No outro, chamado evento nº 13, foram apreendidos, em 17 de dezembro de 2013, 145 quilos de cocaína que seriam levados no navio MSC Athos ao Porto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias, Espanha.
FONTE: Informações | g1.globo