Watchmen estreia neste domingo (20), às 23h, na HBO; se passa no mesmo universo da idolatrada graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, mas não é uma adaptação, como foi o filme de 2009 dirigido por Zack Snyder.
Mas, afinal, o que é que Damon Lindelof está fazendo na série Watchmen? O primeiro episódio abre com a reconstituição de um acontecimento de violência racial pouco conhecido: o massacre da “Wall Street” negra, em Tulsa, Oklahoma, em 1921. A Avenida Greenwood era um caso exemplar de uma comunidade afro-americana estabelecida. Ao final da carnificina, centenas de negros estavam mortos, e suas lojas, destruídas. “Foi ali que nasceu a ideia”, contou Lindelof.
Poucos anos atrás, ele começou a ler os escritos de Ta-Nehisi Coates sobre a luta pelas reparações de injustiças históricas aos negros nos Estados Unidos e só então descobriu o caso de Tulsa. “Fiquei com vergonha de nunca ter ouvido falar disso”, disse. “Mas achei que podia usar em Watchmen, porque a graphic novel era extremamente política. O que, em 2019, é o equivalente ao impasse nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética (que é o tema do material original, passado nos anos 1980)? Para mim, inegavelmente, era a relação da questão racial e da polícia nos EUA.”
Supremacistas brancos
Vendo apenas o primeiro episódio, é verdade que uma certa confusão se estabelece. Se na realidade dos Estados Unidos – mas não só – de 2019, os negros são invariavelmente alvo de agressões e assassinatos pelas mãos da polícia, em Watchmen os policiais, que agora andam mascarados para sua proteção, estão caçando supremacistas brancos. Uma delas é a negra Angela Abar, interpretada por Regina King. Os supremacistas brancos, por sua vez, declaram uma guerra à policia usando a máscara de Rorschach – o controverso personagem da graphic novel, visto como herói por muitos, mas de claras tendências fascistas.
De cara, Lindelof foi questionado sobre a responsabilidade de mostrar a polícia ao lado dos negros contra os supremacistas brancos, o contrário da realidade. “Uma das coisas mais bacanas do Watchmen original era que não dava para saber o que era história real e o que era história alternativa”, disse. “Eu espero que, ao longo dos nove episódios, as coisas fiquem mais claras. Mas esse não é um projeto tradicional de super-heróis, que derrotam alienígenas, eles voltam para casa e todos vencem. Não há derrota para a supremacia branca” (leia ao lado outros trechos da entrevista coletiva de Lindelof).
De fato, episódios seguintes deixam mais claras as complexidades do que ele quer falar sobre as relações raciais nos Estados Unidos e o impacto profundo do trauma no tecido social de um país.
Nesse universo paralelo, não há internet nem celulares. O presidente, desde o início dos anos 1990, é Robert Redford – ele mesmo, o ator. “Queríamos explorar a ideia do que aconteceria se um homem branco bem-intencionado fosse presidente por um longo período”, contou Lindelof. “Sendo eu mesmo um homem branco, a ideia de que em meu país não haveria uma tremenda resistência à tentativa de igualar a balança de poder entre brancos e negros é ridícula.”