Casal se cura de câncer após passar pelo mesmo tipo de transplante: ‘Um ajudando o outro’
Ana Paula Colela foi diagnosticada em 2007, com câncer no sistema linfático e Uilton Moreira Fernandes em 2013 com câncer na medula óssea. Casal, de Mirassol (SP), se curou após o transplante de medula autólogo, que usa células do próprio paciente, no HB em Rio Preto (SP).
Enquanto acompanhava a esposa durante o tratamento contra um câncer no sistema linfático, Uilton Moreira Fernandes não esperava que, cerca de 7 anos depois, seria diagnosticado com a mesma doença: um tumor na medula óssea.
Ana Paula Colela, de 37 anos, foi diagnosticada em 2007, quando iniciou o tratamento, e o companheiro de 41, em 2013. O casal, de Mirassol (SP), se curou após o transplante de medula autólogo – com células do próprio paciente – feito no Hospital de Base (HB), em São José do Rio Preto (SP), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Após lutarem contra o câncer, Uilton Moreira se casou com Ana Paula Colela em 2016 — Foto: Uilton Moreira Fernandes/Arquivo pessoal
Juntos há 16 anos, Ana Paula e Uilton não se conheceram em circunstâncias comuns: os caminhos se cruzaram durante a batalha da pedagoga contra a doença, que exigia o transplante. Foi nesse período, entre idas e vindas dos exames, que se aproximaram e o amor se fortaleceu diante das adversidades.
Isso porque, ao g1, Uilton relata que conheceu a esposa por meio de um amigo em comum, que contou que Ana Paula passava pelo difícil tratamento contra o câncer, junto à recuperação pós-transplante. A amizade que desenvolveram, pouco a pouco se transformou em algo maior. Conforme o Uilton, à medida que o tratamento progredia, o vínculo entre eles se fortalecia. Conversas sobre o hospital deram lugar a passeios e encontros românticos.
Em 2008, um ano depois, Ana Paula e Uilton começaram a namorar. Em 2013, a pedagoga descobriu que estava curada. Contudo, naquele ano, o destino ainda tinha desafios reservados e Uilton viu a história se repetir: ele também foi diagnosticado com câncer. “Uma coisa muito difícil é parar a vida. A gente não pode trabalhar, estudar, vive uma rotina desgastante entre hospital e casa. São muitos exames, internações, remédios. É bem difícil, mas um ajudando o outro ajuda demais”, reflete Uilton.
Depois do transplante de medula, já em 2020, Uilton precisou fazer uma cirurgia para retirada de um tumor na coluna. Devido ao procedimento, chegou a ficar em coma por seis dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e teve paralisia em um dos rins.
Por conta disso, precisou fazer hemodiálise e a quimioterapia ainda na UTI. Após seis meses, ele, que aguardava na fila, conseguiu fazer o transplante. Naquele momento desafiador, Uilton lembra que o apoio da esposa o sustentou. “Eu nunca imaginaria que eu passaria pelo mesmo problema que ela. Eu sentia que ela sofria muito e, depois, passei pelo mesmo tratamento. Na época, quando ela me apoiou, foi o máximo. O apoio dela me fez enfrentar a situação com fé, com garra”, lembra Uilton.
Após meses em tratamento, com altos e baixos, a vida ofereceu uma chance ao casal que superou a doença junto. De acordo com Uilton, o transplante de medula óssea trouxe não apenas novas células para seus corpos, mas também um novo sentido para a vida.
O que é o tratamento autólogo?
O chefe do serviço de transplante de medula óssea da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (Funfarme), João Victor Picollo Feliciano, explicou ao g1 que o transplante autólogo funciona como um “truque” no corpo humano para combate ao câncer.
Nesse tipo de transplante, as células-tronco do próprio paciente são coletadas e utilizadas para a recuperação após a quimioterapia – como uma espécie de autotransplante. A indicação está relacionada ao quão ativo o câncer está após o tratamento inicial. “A medicina inventou um truque, na verdade. A gente retira antes de fazer essa quimioterapia as células-tronco do paciente, que são as células que são responsáveis pela produção de sangue, armazena elas congeladas no hemocentro, faz a quimioterapia no paciente, depois a gente recoloca essas células”, explica o médico. Caso não fosse possível injetar as células novamente no paciente, Picollo explica que o paciente teria problemas com a produção de sangue ao longo da vida, já que a quimioterapia “ataca” o câncer, mas também “destrói” a produção como efeito colateral.
O resultado, conforme o profissional, é um controle do tumor de uma maneira efetiva. O transplante de medula óssea autólogo é indicado nos casos de linfoma – como o caso de Ana Paula – e mieloma múltiplo – como o caso de Uilton. G1