Casal de Rio Preto busca filha gerada em barriga de aluguel na Ucrânia

Casal rio-pretense Adriano e Camila atravessou fronteiras em tempos de pandemia para conseguir encontrar a filha Pietra, gestada no país que é referência mundial em barriga de aluguel.

Após diversas tentativas, sem sucesso, de engravidar, Camila Pavan, 32 anos, e o marido, o fisioterapeuta Adriano Garbelini, 36, optaram por fazer uma barriga de aluguel para gerar o tão esperado filho. Casados há 15 anos, eles tinham há muito tempo o sonho de ser pais e já haviam tentado a barriga solidária por meio da irmã de Adriano, procedimento que acabou não dando certo.

Conhecida como barriga de aluguel, a maternidade de substituição já foi tema de filmes e ganhou até destaque em uma novela na Rede Globo, em 1990. Para o casal, o método escolhido foi encarado com tranquilidade, longe de ser tabu, mas como alternativa para realizar um sonho.

O que eles não esperavam é que, bem na hora de Pietra nascer, o mundo fosse enfrentar uma pandemia, dificultando o caminho que tiveram de percorrer para estar ao lado da filha em sua chegada ao mundo.

Adriano e Camila estão desde o último sábado (13), com Pietra junto a eles, sendo o único casal brasileiro que até o momento conseguiu atravessar as fronteiras para chegar a Kiev, capital da Ucrânia, local escolhido para que a filha fosse gerada. Foram 15 horas de avião até o país referência no procedimento.

Ao conhecerem o Biotexcom, centro de reprodução humana, encontraram a opção mais conveniente, unindo clínica e hotel em um único lugar. Foi lá que, há um ano e meio, Adriano ficou com a mulher por cinco dias e teve o material genético colhido. Por meio de uma seleção sem identificação, o casal escolheu uma doadora de óvulos.

“Não sabíamos nome, nada, mas eles informavam tudo que se possa imaginar sobre preferências, medida, peso, gostos, e eu acabei escolhendo uma que fosse mais parecida fisicamente comigo”, contou Camila.

A dupla, no entanto, optou por não escolher a mulher que serviria de barriga de aluguel. “Apenas pedimos para a clínica uma pessoa responsável e conseguimos um anjo, ela é maravilhosa”, disse Camila, que se emocionou ao conhecer pessoalmente a ucraniana que gerou Pietra.

“Durante a gestação, recebemos ultrassons, medidas e também falávamos com ela por mensagens, fotos, mas tudo por intermédio da clínica”, contou a rio-pretense, que somente ao buscar a criança, conheceu a europeia pessoalmente.

Para que todo o trâmite fosse realizado, o casal investiu 39 mil euros, o que equivale, nos valores atuais da moeda, a R$ 230.490, pagos por etapas. Eles escolheram um pacote de tentativas ilimitadas e explicaram que o preço varia muito conforme a genética, escolha da mãe, uso ou não de óvulos, etc.

Com previsão para nascer no dia 23 de junho, Pietra já vinha sendo aguardada ansiosamente pelo casal que, com o avanço da pandemia do coronavírus no Brasil, ficou de olho, diariamente, nos voos para os países da Europa.

No final de maio, eles perceberam uma diminuição no número de opções de transporte aéreo para destinos próximos e resolveram, assim, se adiantar e garantir sua ida. Com a ajuda de uma agente de viagens, não encontraram muitas possibilidades, uma vez que o País fechou suas vias aéreas no final de março, e resolveram apostar em um voo de repatriação de ucranianos, que sairia de Munique (Alemanha) no dia 1º de junho, com destino a Kiev, capital da Ucrânia.

Entretanto, a situação da época impedia o casal de passar por mais de um país na Europa e, para chegar até Munique, precisariam viajar para Amsterdam (Holanda). Sem outra opção, os dois, que já estavam com a carta de autorização para a Ucrânia pronta há três meses, solicitaram autorização para os outros dois países e graças ao consulado brasileiro na Alemanha, conseguiram concluir o processo.

Em Kiev, eles tiveram que ficar em quarentena por nove dias em um hotel. Ao testar negativo para a Covid-19, foram liberados e, no dia seguinte, 11 de junho, Pietra nasceu, chegando aos braços do casal no último sábado.

O casal não sabe até quando ficará no país, mas no momento isso já não é mais preocupação, uma vez que já realizou o sonho de ter uma filha. Agora, Camila e Adriano esperam a liberação da certidão de nascimento de Pietra, que deve sair em 20 dias. Com o documento, será possível dar entrada no passaporte brasileiro e voltar para casa, mas será preciso também aguardar a situação do coronavírus no mundo. “Há casais brasileiros e do mundo todo esperando conhecer os filhos aqui”, contou Camila, que fala em uma média de 80 a 100 bebês que aguardam os pais na clínica. “Eles estão sendo muito bem tratados em um espaço criado para aguardar os pais que não conseguem chegar até aqui.”

A fé motivou o casal na jornada. “Deus colocou as pessoas certas no meu caminho. É inexplicável. Se eu não tivesse esse sonho, acreditasse e confiasse, nada teria dado certo”, afirmou a mais nova mamãe. “Valeu a pena cada movimento. Faria de novo, porque se você sonha com algo, tudo o que acontece tem uma razão”, disse Adriano, que junto à mulher, está há um mês divulgando os preparativos para a chegada de Pietra nas redes sociais.

Em relação à quarentena na Europa, o casal opinou que os brasileiros são os que mais estão se cuidando, tendo em vista a pouca quantidade de pessoas que encontraram com máscaras por onde passaram.

Centro virou referência

A Biotexcom, agência especializada em Kiev, na Ucrânia, local escolhido por Camila e Adriano, tem cada vez mais atraído pais e mães do mundo todo. Além de ter um valor menor a outros locais, como os Estados Unidos, eles oferecem um serviço completo e maior acompanhamento no processo.

Atualmente, o país da ex União Soviética divide o posto com Albânia, Rússia e Grécia, já que o México, Índia e a Tailândia fecharam a opção apenas para moradores do País. Prática autorizada na Ucrânia, a barriga de aluguel é uma forma de mulheres receberem um dinheiro em troca do processo de gestação.

No Brasil, a prática é proibida, sendo permitida apenas a barriga solidária, em dois casos: reprodução assistida ou uniões homoafetivas, por meio de procedimentos que podem ser realizados por um familiar de até quarto grau, ou com autorização do Conselho Federal de Medicina e sem remuneração. De acordo com a Constituição brasileira, é proibido qualquer tipo de venda de substâncias humanas, sendo proibido dispor do próprio corpo quando isso gera “diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes”.

Não há no país uma legislação específica sobre a prática, apenas resoluções elaboradas em 2015 pelo CFM, acompanhadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). (AP)

FONTE: Informações | diariodaregiao.com.br / Arthur Pazin

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